Preconceito inverso

Se vocês me permitem – porque essa semana, eu estou chutando todos os baldes que vejo pela frente (como tenho dito, meu indice de adrenalina ultimamente está pra dar inveja em qualquer praticamente de esportes radicais) – vou abordar um tema polêmico: PRECONCEITO.

Tudo porque ultimamente percebi que não importa tão ínfima, frágil e ridícula (com direito a embromação introdutória) seja uma situação, ela SEMPRE tem dois lados.

Na segunda, eu falei sobre pessoas que falam coisas ofensivas sem pensar – por preconceito – e como isso cansa e enche o saco. Mas, por outro lado, quem é vítima constante de preconceito e intolerância, tem uma certa tendência a enxergar tudo como preconceito contra ela? Veja bem, é uma pergunta e não uma afirmação, mas vale a pena debater a respeito.

Um exemplo legal foi  uma história que o K., meu amigo, me contou recentemente (a D. do texto é  a filha de 2 anos de idade):

Num domingo a noite aconteceu um pequeno acidente com a D. e e corremos para o pronto-socorro infantil.

Chegando lá, entraram minha esposa (J.) e a irmã dela direto ao consultório e eu fiquei na recepção preenchendo papéis. Uns 5 minutos depois, entro num corredor com vários consultórios, encontro esposa e cunhada e pergunto:
– E aí? Já olharam a D.?
– Já. – respondeu a esposa –  Veio uma médica, deu uma olhada e disse q vai precisar dar pontos. Aí disse que  não fazia o serviço e que viria outra pessoa fazê-lo.

Passam mais uns 5 minutos e chega um homem com o titulo “Cirurgião Pediátrico” no jaleco. Ele examina apenas o corto na testa da D., explica que realmente vai precisar dar pontos e se retira avisando que logo mais retorna com uma enfermeira, para ajudá-lo no processo.

Passam cerca de 10 minutos e voltam ele e uma enfermeira. Eles fazem a sutura na testa da D., explicam o tempo que vai levar para retirar, o que podemos ou não fazer e saem.

No caminho pra fora algo me passa pela cabeça e eu comento com minha esposa:
– Vamos perguntar se precisamos ficar atentos a algum outro sintoma caso essa pancada tenha sido mais profunda do que parece.
Ela concorda e nisso passa a enfermeira, que eu abordo e pergunto:
– Por favor, cadê a médica que examinou a criança? Vc pode pedir pra ela vir aqui um pouco?

Passam alguns minutos e vem o cara de jaleco. Acidentalmente eu digo:
– Não, eu queria falar com a médica. Ele nao é só o cirurgiao?.

Ele olha com cara bem pouco contente e diz que ele era o médico responsável pela paciente, responde minha pergunta e sai.

Muito descontente com o “fora” que tinha acabado de dar, eu questiono a J.. Ela explica que a médica mencionada incialmente tinha olhado a D. só de passagem e que ele realmente tinha sido o médico que realmente a examinou.

Minha indagação é a seguinte:

Um fora resultou de um pequeno mal entendido, acontece.
Mas E SE, no começo, tivesse falado que o médico era negro, será que o leitor ainda estaria achando que foi só um mal entendido e não racismo?

É claro que pode muito bem ser um caso isolado e todos os outros casos do mundo serem preconceito descarado mesmo. Ou não, a gente que leva muito pro lado pessoal….

Será? O que você acha?

Beijinhos,

Lak

14 Resultados

  1. Lu disse:

    Ai preconceito é uma coisa delicada, né?! Principalmente quando a pessoa não percebe que teve uma atitude por preconceito, aquele que já tá “incrustado”.
    Não que isso seja desculpa…nenhum tipo de preconceito tem justificativa!
    Mas eu concordo que sempre tem o outro lado, o da pessoa que, talvez por já ter sofrido com isso, acha que sempre o problema é com ela… que seja pela raça, deficiência, origem….
    Mas o segredo de tudo é o equilíbrio, não?! Não podemos ser radicais pra nada… então é sempre bom refletir nossas atitudes. Refletir se estamos tomando atitudes que podemos pensar ser um mal entendido por precoceito e também refletir se realmente estamos sofrendo precoceito ou se é só um mal entendido! 😉
    Ai que assunto complexo pra uma sexta-feira, não?! Hehe
    Bom findi!! Beijinhos!

    • Avatar photo laklobato disse:

      E tem dia melhor pra isso? Hahaha
      Também fiquei pensando nesse texto que o K. me mandou. Porque a minha tendência sempre foi achar que só que emana preconceito erra. E, talvez não seja tão preto no branco assim.
      Sei lá, acho que vale o debate, pelo menos….
      Beijos

  2. Rogério disse:

    Que sinuca de bico, hein? Há sempre o risco de um mal entendido ser considerado um ato preconceituoso, mas em geral as coisas não são tão sutis assim. Miguel Falabella costuma dizer que quando você se decepciona com alguém, na realidade deveria se decepcionar primeiramente consigo mesmo(a), porque as pessoas estão sempre mostrando a cara e a gente, por algum motivo, não consegue ou inconscientemente se recusa a perceber. Acho que cabe aqui, com algumas adaptações, aplicar o que ele diz. Quando ia para a piscina com minha filha eu notava que algumas pessoas saíam dela e outras que estavam fora não entravam, como se paralisia cerebral fosse algo contagioso. Outras tantas faziam questão de brincar com ela. Existem pessoas e pessoas, os valores e os conceitos variam. O que nos cabe é ter a perspicácia necessária para separar o joio do trigo, até para evitar uma reação precipitada e injusta. Um beijo e ótimo fim-de-semana.

    • Avatar photo laklobato disse:

      Adorei seu comentário… Pois é, essa semana foi o cão-chupando-manga (embora tenha sido muito boa tb, pra um monte de ajuste de contas) e eu resolvi polemizar legal! Concordo com o que vc diz, existem pessoas e pessoas. Assim como existem situações e situações. Por isso mesmo, penso tb: Quantas vezes a culpa por um erro de outro não é nossa?
      Beijinhos e otimo findi procê tb!

  3. Diéfani Piovezan disse:

    Hmmm sabe Lak, as vezes a pessoa fala sem querer, a intenção nem é a de ser precnceituoso, mas acaba soando como. E a gente que sofre preconceito e está constantemente ouvindo bobagens acaba muitas vezes pensando que a pessoa está sendo preconceituosa com a gente. Muita gente desenvolve SEM QUERER, uma pequena mania de perseguição sabe?
    De qualquer maneira cada um é cada um assim como cada situação é unica. Cabe a pessoa que se sentiu vitima parar e pensar se foi realmenter aquilo e aprender a discrminar o que foi preconceito do que não foi.

  4. K disse:

    Eu sai de lá do hospital na certeza q alguns dias depois o cara ia falar pra algum outro amigo médico: “Porra, aquele cara FDP achou q eu nao era médico!! racista do kct!!”.

  5. Bruna disse:

    Muito bom o post Lak. Sempre que passo por alguma situação de “preconceito”, tento me colocar no lugar da outra pessoa. Porque as vezes não é nem maldade, nem preconceito… é um descuido, ou mal entendido, que qualquer um de nós poderia cometer.
    Claro, existe gente preconceituosa (e muito), mas acho que quem é diferente, seja por uma deficiencia, pela cor, por ser magro, gordo ou baixinho, acaba desenvolvendo um escudo de proteção, o que faz ver tudo como preconceito mesmo.
    Bjs!

  6. Juca disse:

    aposto que a cada 100 situações parecidas, em 99 delas ninguém teria o discernimento/preocupação de fazer diferença entre um clínico e um cirurgião… considerando essa realidade, faz sentido que ao cirurgião do caso ocorra ter sido vítima de preconceito, né…

    preconceito é só questão de oportunidade… ninguém escapa mas ninguém tem direito de passar adiante tb! 🙂

  7. Alex Martins disse:

    Preconceito está sempre no olhos de quem sofre. Até pq se vc consegue abstrair a questão nunca vai ler como preconceito.

    Pra quem tem o comportamento preconceituoso, a coisa toda é infelizmente natural. Julgar corretamente esse tipo de ação é complicado pra caramba. Pq vc pode sofrer uma ação grave e não ligar ou ver fantasmas onde não existem.

  8. Patie disse:

    Complicada a questão. Fato é que muitas vezes as pessoas tendem a achar esse tipo de coisa mesmo. Uma vez a gente teve uma empregada aqui em casa que era negra, e eu a critiquei por ter feito algumas coisas erradas, ter deixado de limpar algumas coisas, enfim. E ela saiu berrando pra quem quisesse ouvir que eu tava criticando ela apenas por ser negra, quando eu só pedi que ela fizesse direito o trabalho que tava sendo paga pra fazer. Complicado.

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