Do jeito que as coisas são….

Anaîs Nin escreveu uma frase muito verdadeira “Não vemos as coisas como elas são. Vemos como nós somos.”
Outro dia, eu voltava para casa tarde já e resolvi pegar um táxi. Falei o endereço para o motorista. Ele não entendeu. Repeti. Ele não entendeu de novo e tive que repetir pela terceira vez.
Aí ele repetiu com tom de quem esperava uma confirmação. Na hora, pensei “que má vontade dos infernos, minha voz não é tão ruim assim.”.
Confirmei o que precisava ser confirmado e calei-me o resto do trajeto.
Lá pelas tantas, ele me perguntou algo e eu respondi.
Mesma expressão de incompreensão dele. Falou um “ãhm” com expressão de dificuldade de me entender.
Minha primeira reação foi repetir com tom de desdém – porque realmente parecia má vontade!
Mas, por uma súbita reflexão de defesa, olhei para a orelha dele e, voilà: um aparelho auditivo pousava discretamente no interior do pavilhão auditivo.
Minha voz é boa, mas eu tenho o péssimo hábito de falar baixo. Remanescências de quando escondia a voz, já que não tinha como controlar o volume. Por isso, ele demorou para me entender.
Sorri e disse, dessa vez de maneira bem audível “Olha só, somos ambos deficientes auditivos. Reparei que o senhor usa aparelho. Eu também uso” arrancando o IC da orelha, para mostrá-lo ao taxista.
Como se num passe de mágica, a expressão de irritação visível sumiu do rosto do motorista, dando lugar àquela típica cara-de-cumplicidade que usuários de aparelhos auditivos costumam ter, quando encontram um parceiro-de-orelha-equipada.
Passamos o resto da corrida falando dos nossos aparelhos. Da nossa deficiência. Que era bom alguém entender que, às vezes, a gente precisa que repitam, que falem um pouquinho mais alto, que tenham boa vontade.
Cheguei ao destino e o motorista rabugento ficara em algum quilometro já passado do trajeto. O que me deixava em casa era um velho amigo, de quem senti até uma certa tristezinha de me despedir.
É por isso que dizem que, antes de prejulgar, dê tempo de criar um conceito.
Ás vezes, o problema do outro é o mesmo que o seu e ele está tão sem jeito quanto você de tocar no assunto!
Beijinhos sonoros,
Lak

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