Surdez na Terceira Idade e Implante Coclear

A surdez é uma das deficiências mais atribuídas à terceira idade. A relação entre surdez e idade é tão forte, que quando uma criança, adolescente ou jovem adulto perde a audição, a primeira reação que ele ou a família tem é “não quero usar aparelho auditivo porque é coisa de velho”. E é tão grave essa afirmação, que os próprios idosos rejeitam os aparelhos também, porque acham que evidencia a idade que tem. Afinal, vivemos num mundo onde velhice é tida como uma doença rejeitável. Como se a idade não trouxesse também maturidade, experiência, conhecimento e, por que não, o respeito pela vida plena de quem chegou até essa etapa da nossa jornada natural?

O problema é que rejeitar o aparelho auditivo, pode ser muito mais grave do que se imagina. A surdez é uma deficiência que separa a pessoa do mundo auditivo, fazendo com que ela se sinta isolada e ignorada. É claro que nascer surdo e crescer dentro da cultura surda tem suas vantagens e é uma forma de vida maravilhosa no sentido de fazer parte de um grupo, ter uma identidade, etc. Mas, no caso aqui, falo de ouvintes, com identidade natural de ouvinte, que um dia se vêem sem conexão co mundo ao redor.

Uma desvantagem de perder a audição numa idade avançada – mais que a minha, que foi aos 10 anos, por exemplo – é que a capacidade de adaptação do cérebro nem sempre é tão rápida. Um idoso que perde a audição já com idade avançada, nem sempre consegue desenvolver a leitura labial com a mesma facilidade de uma criança.

E o resultado desse isolamento, dessa separação social, pode ser muito mais séria que simplesmente se sentir sozinho. A pessoa pode desenvolver depressão e até senilidade, porque  a falta de interação social costuma fazer muito mal para um ser que é tido como social desde que estava na barriga sendo gerado.

Daí a importância da intervenção na hora certa, com a tecnologia assistiva adequada para o caso. Toda a pessoa que perde a audição se beneficia com prótese auditiva convencional? Não. Porque depende do tipo de perda que a pessoa tem. É claro que o AASI (aparelho de amplificação sonora individual) é o primeiro passo para a reabilitação auditiva. Porém, algumas pessoas podem precisar de algo mais. Não apenas amplificar o som, mas conduzi-lo e reproduzi-lo de maneira adequada às necessidades da pessoa. Ou seja, implantes auditivos como o Implante Coclear, Implante de Condução Óssea, etc.

Segundo uma pesquisa da The Ear Fundation, no Reino Unido, apenas 5% dos idosos que poderiam se beneficiar com o implante coclear tem informação adequada e acesso a ele. Se isso acontece na Inglaterra, imagine como é aqui no Brasil?

É muito comum, quando converso com uma pessoa, ela comentar sobre algum parente idoso que “perdeu a audição e ficou isolado, coitado.” Pergunto sobre o uso de AASI. E fico sabendo que a pessoa não gosta de usar ou não se adaptou. Uma coisa que eu aprendi ao longo dos meus quase 30 anos de surdez, é que boa parte dessa “não adaptação” com aparelho, se deve a diversos fatores tais como: falta de condições psicológicas (um acompanhamento psicológico pode ser essencial nessa fase), falta de incentivo e colaboração dos familiares (que tem comportamento inadequado da família em relação ao aparelho, ou seja, falta de orientação aos familiares) e, principalmente, aparelhos inadequados para a perda da pessoa.

Uma avaliação criteriosa, feita por uma equipe multidisciplinar, formada por otorrino, fono, psicólogo e até um assistente social, deveria ser obrigatório durante o processo de incorporação de uma prótese auditiva adequada para pacientes da terceira idade.

Se você tem um parente idoso que dá sinais de estar ficando surdo, não ache que é normal da idade ou que ele está confortável assim. Muitas vezes, ele tem vergonha de falar do assunto, mas gostaria sim de receber ajuda. Para quem ouviu normalmente a vida toda, a surdez pode ser uma sensação muito grande de isolamento social. Procure informações de centros auditivos próximos de vocês e marque uma avaliação médica. O bem estar psicológico, social e emocional dessa pessoa é um fator importante para a saúde dela!

Beijinhos sonoros,

Lak

8 Resultados

  1. Melhor muito ouvido eu tenho

  2. soramires disse:

    Muito bom você trazer esse assunto…morro de tristeza ao ver pessoas idosas se isolarem, as pessoas da família perderem a paciência quando uma boa prótese, bem regulada poderia ajudar essa pessoa e contribuir para sua qualidade de vida.
    Lembro a quem tem uma pessoa amiga ou da família com problemas de surdez que o SUS TEM ATENDIMENTO EM SUAS UNIDADES OFERECENDO PRÓTESES ADEQUADAS A CADA CASO. TEM QUE IR A UM POSTO DE SAÚDE conveniado com o Sus, marcar com otorrino e este vai encaminhar para o local de atendimento.

  3. Maria Alice Soares Roberto Msf

  4. Sabine R. disse:

    Tua escrita tem uma fluência leve, doce… Veio trilhar o caminho adequado, creio!

    Grande abraço, GaLak!

  5. Infelizmente hoje as crianças, adolescentes , jóvens estão cada dia mais sofrendo doenças que eram chamadas : doença de velho….dó.

  6. Lak Lobato disse:

    Assim como os próprios idosos e, de tanto chamarem surdez de doença de velho, eles não se sentem confortáveis de usar aparelho auditivo. Uma pena, né?

Participe da conversa! Comente abaixo:

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.