Prêmio Ouvir Bem pela divulgação do Implante Coclear

Semana passada, eu estava ponderando sobre como celebrar meus 40 anos de vida aqui no DNO. Quarenta anos de idade, trinta deles convivendo com a deficiência auditiva. Uma história entre muitas assim, porque todas as histórias com deficiência adquirida tem uma base em comum e, dependendo de como se vive, elas se parecem tanto que é fácil pensar “nossa, a minha história é igualzinha”.

Anos atrás, enquanto pensava se criava ou não um blog sobre surdez, lembro que a minha principal dúvida era que eu tinha medo de não ser vista como escritora, mas apenas como surda. Eu não me orgulho de ser surda. Não tem como eu ter orgulho de algo me aconteceu, que eu não escolhi. E ainda que eu também não tivesse vergonha da minha condição – isso nunca tive, porque não acho que surdez seja motivo de vergonha nem de lisonja – eu não queria ser resumida à deficiência. Ela é a parte, eu sou o todo.

No entanto, a vontade de escrever foi mais forte que tudo e o tema era promissor. Quantas pessoas, exceto quem convivia com essa realidade, já tinham ouvido falar em Surdos Oralizados e Implante Coclear?

O tempo passou, o blog cresceu, minha história todo mundo conhece. E o reconhecimento pelo meu trabalho – que inicialmente era brincadeira que virou assunto sério – veio de muitas formas. Inclusive como carinho de gente de diversas partes do Brasil.

Há algumas semanas, recebi um convite para entregar um prêmio a um jornalista, no evento para pessoas com deficiência auditiva, profissionais e personalidades do poder publico que teve no HEARING (Congresso Internacional de Surdez). No mesmo dia, Jairo Marques (jornalista da Folha de São Paulo, meu amigo e mentor do DNO, inspirado no blog dele “Assim Como Você“) anunciou que seria premiado neste mesmo evento e eu achei que tinha sido convidada para entregar o prêmio dele – embora tenham me dito que não, quando sondei a Dorotéia Fragata (assessora de imprensa do HCFMUSP e do evento).

Pois bem, cheguei no evento e me perguntaram se eu era homenageada ou platéia. Falei que era platéia e fui sentar lá no fundo, junto com a família:

Cesar, Mary, mãe, Edu, eu.

O evento em si foi bem bacana. A melhor parte foi uma aula da Patrícia Scharff falando sobre crianças implantadas. Se quiser saber sobre a história maravilhosa da Patrícia com seus 3 filhos implantados bilaterais: Implante Coclear Entre Irmãos.

Joselia Queiroz, Patricia Scharff, eu, Julio Queiroz e Ana Augusta Scharff

Houve espaço para esclarecimento de algumas perguntas, na presença da Profª. Drª. Linamara Rizzo Battistella, Secretária de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, que veio debater diversas questões sobre inclusão e acessibilidade de pessoas com deficiência auditiva. (O debate foi um pouquinho rápido e ficou com gostinho de quero mais!)

No final do evento, o Grupo de Implante Coclear do Hospital das Clínicas de São Paulo decidiu mostrar diversas reportagens na mídia sobre o implante coclear. E como resultado dessas reportagens, jornalistas de diversos veículos receberam o Prêmio Ouvir Bem pelo trabalho de divulgação do Implante Coclear, permitindo que muitas pessoas (alias, eu inclusa) tivessem acesso a informação de como realizar a cirurgia.

Quando anunciaram o nome do Jairo Marques (repetindo, porque sou tiete dessa pessoa maravilhosa que me inspirou a ser a diferença que eu queria ver no mundo) meu coração disparou, porque eu tinha fé que estava lá para entregar o prêmio dele. Infelizmente não foi o caso e ele recebeu o prêmio das mãos de uma criança implantada e do melhor médico de IC do mundo, Dr. Robinson Koji (sou tiete dele também).

Jairo e Dr. Koji (foto: Matheus Fragata)

Enquanto eu estava entre me sentir orgulhosa e feliz pelo Jairo e praquejando porque não era eu quem ia entregar o prêmio dele, ouvi a frase “E o último prêmio da noite vai para uma pessoa que tem ajudado muito na divulgação do Implante Coclear” (ou algo assim, eu não lembro bem) “Lak Lobato, que recebe o prêmio da criança implantada Eduarda Sotero

Sabe quando você ouve uma frase, mas seu cérebro acha que te pregou uma peça e você entendeu errado? Sabe quando o tempo entra num intervalo em que 1 segundo dura 1 hora? Já aconteceu com você? De repente, vem a cabeça dúvida, confusão, incerteza, necessidade de confirmar e ao mesmo tempo, a resposta de algo que precisa ser imediato?  Pois é, foi exatamente isso que aconteceu.

Recebi o Prêmio Ouvir Bem do Grupo de Implante Coclear do HCFMUSP pelos 8 anos de trabalho aqui do DNO. 8 anos acreditando que o implante coclear merece ser divulgado, porque é capaz de transformar a vida de muita gente, inclusive a minha.

 

No dia em que completo meus 40  anos de vida (10 de abril) – meio de coração partido, porque a minha década de 30 anos foi a melhor fase da minha vida e é com saudade que me despeço dela – venho compartilhar o prêmio com vocês aqui no blog.

Obrigada à equipe maravilhosa do Hospital das Clínicas, que cuida do meu caso há 10 anos: Dr. Robinson Koji Tsuji, Fga. Valéria Goffi, Dr. Ricardo Ferreira Bento, Fga. Ana Tereza Magalhães e demais profissionais envolvidos nesse trabalho maravilhoso de trazer poesia sonora à vida de tantas pessoas.

E obrigada especialmente aos Leitores do DNO, que acreditaram no meu trabalho e me acolheram em suas vidas. Nada do que eu faço seria possível sem vocês.

Encerro, então, minha década dos 30 com a certeza que a vida é bonita, é bonita e é bonita!

Beijinhos sonoros,

Lak Lobato

 

2 Resultados

  1. SINTO-ME PREMIADA TAMBÉM, por saber que duas pessoas muito queridas foram premiadas: Lak Lobato e Jairo Marques. Comecei meu blog SULP tambémincentivada pelo DNO E PELO JAIRO….uma bela trajetória, parceria, amizade e respeito.

  2. SINTO-ME PREMIADA TAMBÉM, por saber que duas pessoas muito queridas foram premiadas: Lak Lobato e Jairo Marques. Comecei meu blog SULP também incentivada pelo DNO E PELO JAIRO….uma bela trajetória, parceria, amizade e respeito.

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