Discriminação contra surdos oralizados existe?

Esse texto é da Paula Pfeifer e o debate foi originalmente publicado no blog Crônicas da Surdez.

Mas, achei extremamente relevante para nós prolongar o debate:

Passeando pelo YouTube, assisti a alguns vídeos sobre acessibilidade para surdos. Fiquei chocada e, confesso, irritada com alguns pontos. Instituições respeitadas falando bobagem e disseminando informações erradas. Quando foi que ficou decidido que os únicos surdos que precisam de ajuda/acessibilidade são os surdos sinalizados? Essa, eu perdi.

Que fique claro: eu não tenho absolutamente nada contra a Libras e contra os surdos sinalizados.Muito pelo contrário. O problema, na minha opinião, é que a mídia fez uma algazarra desnecessária em cima de uma manchete errada que foi se multiplicando exponencialmente. ‘E que manchete é essa’, vocês devem estar se perguntando. Que todo surdo usa Libras. Que todo surdo precisa de um intérprete de Libras. Que todo surdo só será feliz se fizer parte da ‘cultura surda’, tiver uma ‘identidade surda’ e utilizar a ‘língua dos surdos’. Que basta colocar um intérprete de Libras nos vídeos/programas de TV e qualquer surdo entenderá tudo o que está sendo dito. Que a ‘comunidade surda’ é única e exclusivamente composta por cidadãos que usam Libras. Que todo surdo deve estudar em escola especial.

E assim se forma e se baliza esse imaginário social a respeito da surdez e dos surdos que condiz com a realidade apenas de um grupo de pessoas que convive com a deficiência auditiva.

Alguém avisa, pelo amor de Deus, que existem DIFERENTES TIPOS DE SURDEZ?? Que nem todo surdo/deficiente auditivo sabe/usa/conhece Libras?? Que acessibilidade para surdos oralizadosnão tem absolutamente nada a ver com língua de sinais? Que milhares de pessoas têm e terãosurdez pós-lingual e que estas pessoas não utilizam a Libras para se comunicar mesmo que não escutem?

Eu, portadora de deficiência auditiva neurosensorial bilateral severa e irreversível, usuária de AASI e oralizada, me sinto discriminada sempre que fico sabendo de políticas de acessibilidadepara surdos que atendem somente às necessidades dos surdos sinalizados. A Libras não é a minha língua, mas continuo sendo surda. Porque não mereço políticas adequadas às minhas necessidades? Só porque uso aparelhos auditivos e me comunico oralmente sou ‘menos‘ surda? Porque somente os surdos sinalizados são lembrados quando se fala a respeito deacessibilidade?

Lembro de uma vez que me convidaram para ir ao teatro e eu disse que não gostava porque nem sempre entendia o que era dito pelos atores, principalmente se sentasse longe do palco. Aí a pessoa me disse “mas podemos disponibilizar intérprete de Libras“. “Mas não uso Libras, será que não poderia ter algo tipo um closed caption da peça?”. E a resposta: “Ah, aí você já tá querendo demais!!!”. Intérprete de Libras, sem problemas. Closed caption é querer demais. Ok, fazer o que?

Às vezes me pergunto se isso não ocorre porque, além da surdez ser uma deficiência invisível, ela é ainda MAIS invisível em surdos oralizados. Sinto como se as pessoas sentissem necessidade de enxergar algo de errado em você para sentir compaixão ou acharem que você merece algum tipo de ajuda. Só que, cá entre nós, acessibilidade não é FAVOR. É um direito.

Tive a oportunidade de ler um ótimo artigo na Rede Saci (cliquem aqui para ler também) e fiquei aliviada de saber que não sou a única que pensa assim. Como foi muito bem dito neste artigo, é uma ‘exclusão que ocorre dentro do próprio grupo de excluídos.

Em outro artigo, no blog Acessibilidade para Surdos, li o seguinte: “O Executivo da Empresa Viable, Alexandre Grade, citou que 93% dos surdos brasileiros conhecem pouco a Língua Portuguesa e por isso é necessário o uso do vídeo chamada para comunicar em Libras pois nos Estados Unidos e Europa que todos comunicam em Língua de Sinais através de vídeo chamada e distribuídos gratuitos para pessoas surdas”.

O único comentário que me permito fazer a respeito desta colocação é o seguinte: OOOOOI???? Qual é a fonte da informação de que 93% dos surdos brasileiros conhecem pouco o português? Imagino que a pessoa que disse isso faça parte do grupo que considera surdo apenas o indivíduo que se comunica exclusivamente através de Libras. E me pergunto qual deve ser a sensação de conhecer pouco a língua do país onde se mora – mas, mais que isso, creio que para ser umcidadão independente e obter uma boa colocação no mercado de trabalho, um bom conhecimento do português é o mínimo indispensável.

Enfim…

Surdos oralizadossurdos sinalizados possuem diferentes necessidades quando se fala emacessibilidade. Nenhum dos dois grupos é melhor ou pior que o outro e muito menos mais ou menos surdo que o outro. Estamos falando de seres humanos, de deficiências. Desinformação ou disseminação de informações erradas são inadmissíveis quando se trata dos direitos das pessoas com deficiência. Não quero discutir o que é certo/errado, bom/ruim para cada um – cadasurdo tem o direito e o dever de cuidar da própria vida e fazer suas escolhas linguísticas. O ponto da discussão aqui é que surdos oralizados têm tanto direito à acessibilidade quanto os sinalizados. Isso é indiscutível. E é também patético que se tente menosprezar as opções de vida de quem possui a mesma deficiência que você.

Outro ponto que considero uma tremenda discriminação diz respeito à lei que isenta de IPI e ICMS as pessoas com deficiência que compram carros. Até mesmo os deficientes que não conduzem veículo automotor estão contemplados pela isenção mas os deficientes auditivos não!

O que vocês pensam a respeito disso tudo?

A minha resposta lá no Crônicas foi essa:

Esse post é maravilhoso e vou comentá-lo por partes.

1. Falei na minha coluna do Acessibilidade Total hoje sobre isso. Que surdos oralizados precisam de legenda. E que não é impondo que mudem a lingua com a qual se comunicam que se promove acessibilidade. Aprender Libras é um direito, não uma obrigação. E sendo um direito, tenho o direito de não querê-la e preferir português escrito e a leitura labial.

2. Acessibilidade é dar acesso a cada um da maneira como ele precisa. Não tentar moldá-lo a um padrão. Se for assim, promover acessibilidade é completamente desnecessário, pois já existe um padrão pras pessoas que não tem deficiência e as minorias que se virem.

3. Ontem, vi alguém dizer que ‘informação errada é melhor do que informação nenhuma’. Uma ova! Informação errada é tão ou pior que a ignorância, porque da total falta de informação, não se forma conceito nenhum. O preconceito, por sua vez, vem de informações equivocadas.

4. Divulgar as necessidades dos usuários da Libras, a Cultura Surda e a própria Libras é importante! Mas isso não se faz tentando omitir que muita gente não vive através dela. Especialmente porque boa parte dos oralizados são surdos adquiridos. E qualquer ouvinte pode se tornar surdo oralizado, mesmo que ele aprenda Libras fluentemente. Por isso, é absolutamente necessário que se divulgue a existência dos oralizados e suas necessidades SIM! Se uma pessoa perde a audição amanhã, possivelmente irá querer continuar tendo acesso a língua que sempre usou, independente de usar ou não a Libras.

5. Esses “93%” da noticia que você leu foi uma deturpação de uma amostra do Censo de 2000. Dizia que 93% dos 700 mil surdos até 24 anos estavam fora da escola. Só que não dizia até que idade estudaram, qual o tipo de educação que tiveram, nem que tipo de surdez tinham (se era congênita ou adquirida, pré, peri ou pós lingual). Também não dizia respeito aos maiores de 24 anos. E o mesmo Censo de 2000 dizia respeito a 6 milhões de deficientes auditivos. Quantos faltam nessa amostra de 700 mil pra completar os 6 milhões e poder alegar que realmente 93% da população surda só fala Libras?

Está certo que em vez de puxar a sardinha pro nosso lado, temos que divulgar a diversidade. Mas, é preciso enfatizar que nossas necessidades são distintas e que adaptar tudo apenas através na Libras não serve.

Tenho plena consciência de que não é agredindo a Libras e os usuários dela que se consegue alguma coisa. Mas, não acho que devemos ficar em silêncio fingindo que não precisamos de nada. Precisamos de adaptações pra nós também. Infelizmente, ao contrário do as pessoas acreditam, deficientes auditivos não são um grupo homogêneo e não é uma única solução que resolverá nossas necessidades.

E, cá entre nós, eu poderia até aprender a língua de sinais, mas a minha língua sempre será o português! E sempre irei preferir o acesso a ele, inclusive por escrito, do que qualquer outro idioma ou forma de comunicação. Por que? Porque o português é meu idioma  materno e  a língua falada, minha forma de comunicação natural. Essa é a realidade dos surdos oralizados!

Beijinhos sonoros,

Lak

36 Resultados

  1. Marcelo disse:

    Muito bom esse texto da Paula Pfeifer
    E foi ótimo compartilhar ele aqui também,
    Abraços!

  2. Lobo disse:

    Olá Lak!

    Compartilhei o link de seu blog para todos que me acompanham no Google+, recomendei a leitura. Adorei essa postagem pois reflete grande parte dos nossos problemas que enfrentamos.

    Já falei a respeito no Orkut, lista de Surdos Oralizados a anos atrás. Não escrevi nada completo como essa postagem aí. Fiquei muito feliz em ler.

    Parabéns por compartilhar conosco e acrescer informações. Só atentando a uma coisa, que não está explícita no texto, embora uma observação melhorada vai perceber. Há também surdos pré-linguais oralizados, embora em menor escala.

    É isso aí! 😀 Parabéns e um grande abraço!
    Lobo

    • Avatar photo laklobato disse:

      Verdade, não está explicito, mas nas minhas observações, coloquei ‘boa parte dos oralizados são surdos adquiridos’… Ou seja, implicitamente, quer dizer que a outra parte são congênitos, né? De forma alguma esqueci de vocês…. Beijocas

  3. Eliane disse:

    muito bonito e corajoso esse seu texto!
    Mas é preciso de fato esclarecer sobre os diversos tipos de surdez e lembrar
    que “todos”mas todos mesmo seres humanos viventes podemos a qq momento deixar de ter um dos sentidos funcionando devidamente , no caso da surdez parece realmente ser imperceptível…
    Agora sou sem dúvida alguma partidária da sua idéia se eu perdesse a audição amanhã ia continuar querendo minha língua materna”português”, nada contra Líbras mas é questão de opção e me parece natural pra surdos oralizados. O que se precisa perder é essa noção antiga de Surdo- Mudo. Sim quando eu era criança ( tenho 62 anos) a idéia era de que surdo era tb mudo, ou seja só o surdo de nascença era considerado surdo me parece, ou só ele deveria ser respeitado como tal… Mas, enfim Abaixo o preconceito! que pra mim é sinonimo de ignorância. Mas o importante é na verdade tb se perceber a diferença entre OPÇÃO e OBRIGAÇÃO!!!!!!!! Quem bom que existe o recurso Líbras pra quem quiser utilizá-lo. Fora isso acessibilidade pra surdos oralizados!!!!! pq não? beijinhos sonoros e coloridos

  4. Deni disse:

    Bem, Lak, em 1.º lugar eu digo que me sinto agredida quando certas pessoas vêm para mim e me falam: “Mas você TEM de aprender LIBRAS!” Digo com todas as letras, não me faz falta e sequer tenho a curiosidade de aprender, e mais, odiaria pensar que vou depender de um intérprete de LIBRAS… afffffffff

    O que eu mais desejo é o que você citou, respeito à diversidade e às escolhas que fazemos e claro, legendas e/ou close caption, e o mais importante: não nego a minha deficiência, mas quero que acima de tudo parem com essa ideia de tentarem nos enquadrar em algum lugar, uma comunidade, uma cultura ou seja lá o que for. Prefiro ser cidadã do mundo, com alguns obstáculos a serem contornados pela limitação de uma capacidade que é a de ouvir e sem permitir que a surdez seja uma identidade minha, detesto isso de identidade surda, não sabia que havia identidade ouvinte, identidade cega e por aí vai, mas enfim antes de tudo que eu tenha a identidade como pessoa que apenas precisa de alguns pequenos ajustes para ouvir na sociedade, seria pedir demais???
    Beijos,

    • Avatar photo laklobato disse:

      Não é pedir muito, mas tem gente que acha que é enfiando todo mundo no mesmo saco que se resolve alguma coisa. Dá uma olhadinha nos comentários feitos aqui…
      Enfim, eu quero o mesmo que você! Estamos juntas nessa! Beijos

  5. Laaak, queridaaaaa. Essa discussão é super válida,tem que existir para partilharmos o tema. Mas gosto de ver enquanto é uma discussão em que cada um expressa sua necessidade e quer ver seu direito respeitado, não quando tentam impor um único meio de comunicação. Isso não existe, como vc bem disse “deficientes auditivos não são um grupo homogêneo”, cada um precisa do seu recurso. Não é difícil conciliar intérprete e legenda, então pq não atender aos que precisam de cada um separadamente? Não sei responder a pergunta do post, mas acho que existe a falta de aceitação, se é discriminando ou não, vai de quem o faz (e quem faz é ridículo, diga-se de passagem). Beijossss, espero meesmo ter sido clara 😉

    • Avatar photo laklobato disse:

      Homogenizar pessoas com necessidades diferentes é impossível. Mais fácil satisfazer cada um de acordo com as necessidades e ponto, ué.
      Beijos

  6. Paula Pfeifer disse:

    Minha linda, OBRIGADÍSSIMA pela divulgação!!!!
    Beijos e bom final de semana!

  7. Yuri Sandro disse:

    Texto muito bom!
    Adoraria receber seus post pelo e-mail.

    Abs,

    Yuri

    • Avatar photo laklobato disse:

      Você é a segunda pessoa que pede, mas não consegui achar o plugin pra isso. Tô correndo pra descobrir e assim que conseguir, te aviso, tá?
      Beijocas

  8. Rogerio disse:

    Lak e Paula, vocês me permitem copiar os trechos mais importantes de seus textos para repasse? É que trabalho numa empresa com cerca de 80.000 empregados, onde ainda impera essa visão distorcida de que o atendimento às pessoas surdas DEVE ser feito via Libras, tendo sido criadas turmas de treinamento para esse fim. É louvável a iniciativa, pois vai atender uma parte dos interessados, mas é preciso lembrar que os surdos não são padronizados (algum grupo é?) e, portanto, não há mão única.
    Já cheguei a tocar no assunto por e-mail com a área responsável, mas não senti muito entusiasmo, digamos assim. Como tenho carteirinha de chato desde a adolescência, quero tornar ao assunto e arrancar deles uma posição oficial, porque a resposta que recebi no primeiro contato foi lacônica e típica de quem está só jogando para a torcida.
    Um beijo nas duas.

  9. Mônica disse:

    Querida Lak…adorei suas colocações.
    Vivo no meu dia a dia no meio desses “desses dois mundos” e aprendo muito com eles.
    Gostei muito quando pontua que ” Tenho plena consciência de que não é agredindo a LÍBRAS e os usuários dela que se consegue alguma coisa. Mas, não acho que devemos ficar em silêncio fingindo que não precisamos de nada. Precisamos de adaptações pra nós também. Infelizmente, ao contrário do as pessoas acreditam, deficientes auditivos não são um grupo homogêneo e não é uma única solução que resolverá nossas necessidades.”..pura verdade.
    São grupos com necessidades diferentes apesar da “surdez ser uma só”.
    O que constato nos surdos usuários da libras é que se mobilizam, são muito politizados e estão sempre se reunindo para discutirem com bastante maturidade sobre os melhores caminhos e ações que devem tomar para lutarem pelo exercicio pleno e digno de suas cidadanias. Acredito que se fortaleceram muito por meio da FENEIS – http://www.feneis.org.br/page/index.asp e me emociona a garra que possuem.
    A situação delicada que o Instituto passou no 1º semestre foi abraçada por pessoas surdas usuárias da libras de todo país e fiquei impressionada com a força, determinação e o quanto essa mobilização foi importante para o melhor ( pelo menos nesse momento) desfecho da situação.
    Quem sabe não chegou o momento de um grupo,digo, uma comissão de “surdos oralizados” composta por pessoas que pensem como vc, procurar a FENEIS ? Coloco-me a disposição para intermediar e participar também. O que falta nessa discussão toda que o tema provoca é o 1º passo. E pelo que ando percebendo não existiria momento melhor que o atual…
    outra sugestão é que forme essa Comissão e que nos procure – INES – para estarmos juntos nessa discussão. estamos abertos a “cuidar'”desses “dois lados da surdez”
    Um grande beijo
    Com admiração e carinho..

    • Avatar photo laklobato disse:

      Sim, a gente vem falando nisso, mas ninguém colocou em prática ainda. Precisamos de uma organização que defendas as adaptações aos surdos oralizados. Obrigada pela sugestão! Acho que ela é bem viável mesmo. Beijocas

  10. Mariana disse:

    Esse texto de Paula é muito bom, ela não apenas expressou a sua indignação como representou bem a nossa indignação, o nosso lado. E a tua resposta foi um plus essencial! Bora fazer barulhinho 😀

  11. Mariana disse:

    Lak, não precisa aceitar esse comentário, só queria avisar que tentei comentar no post anterior, mas dá um erro. Quando clica para palpitar, a página vai em “não encontrei nada”, como se eu tivesse usado o sistema de busca. Sobre o filme, deve ser muito bom! Queria ver, mas aqui em JPA só me resta aguardar o DVD. Bjs, 😳

  12. Bruna disse:

    Adorei o texto! Realmente existe discriminação com os surdos que não usam libras. Por conta do mestrado, li alguns trabalhos sobre “cultura surda”, e confesso que fiquei chocada com algumas informações. A que mais me surpreendeu foi a ideia que algumas “comunidades surdas” tem de que os surdos que fazem o implante coclear são uma espécie de traidores.
    Acho que demora ainda pras pessoas entenderem que aprender Libras é como aprender qualquer outro idioma. Mas vamos espalhando isso, que aos poucos as coisas mudam!
    Bjs

  13. Maíra disse:

    É, definitivamente tenho que usar meus conhecimentos de Estatística pra fazer um artigo focado nisso….

  14. marta disse:

    adorei esse post!!
    precisa mesmo divulgar a existência dos oralizados e suas necessidades..
    Se “a união faz a força” um dia (espero logo) podemos ser escutados..

  15. Plínio Corrêa Silveira disse:

    Muito corajosa a matéria, Lak! Aliás, essa foi a melhor de todas que acompanho.
    Beijos!

  16. Gildo disse:

    Parabéns, Lak, além dos outros autores de comentários a este post do blog!
    Achei todos(as) muito corajosos(as), por se posicionarem contra algo que, no meu entender, é absolutamente detestável: a construção de uma ideologia, de um aparato institucional e de distorções em torno do que é a condição do surdo, a comunicação, etc. etc.
    Sou filho de surdo oralizado, meu pai perdeu a audição quando tinha um ano e meio de idade, numa onda de meningite no final dos anos 40. Cresceu entre pessoas que falavam e ouviam, frequentou escola especializada com tratamento fonoaudiológico (ou “foniátrico”?) e sempre se comunicou muito bem com todo mundo, melhor do que muuuuuuita gente que ouve. Agora, em segundo casamento e desta vez com uma surda pouco oralizada, vem utilizando cada vez mais a Libras. Nenhum grande problema, a não ser quando entre eles usam essa língua que, para mim, é mais estrangeira que alemão e japonês.
    Participando de um evento de pós-graduação recentemente fiquei chocado com o comportamento de intérpretes de libras e seus “assistidos”. O discurso dominante é de que português é sua segunda língua, que os intérpretes são indispensáveis em todo lugar e a qualquer momento. Percebi que esses surdos ficam “blindados” diante dos que ouvem, pois a qualquer aproximação surge um famigerado intérprete de Libras e “traduz” até a respiração da pessoa.
    Existe uma discurseira em certos círculos acadêmicos que está contando a história do “movimento surdo” (!?!) ou como queiram chamar como antes e depois da institucionalização da Libras. Até ela ocorrer, os surdos teriam sido alvo de censura, de opressão… A Libras representa emancipação.
    Aí, criam-se cursos de Libras (há gente fazendo pós-graduação relacionada a elas), criam-se empregos e mais empregos para intérpretes de Libras, agora Libras representa intere$$es específicos e ninguém mais pode se posicionar questionando simplesmente se… não dá para viver sem Libras?
    Olha, gente, não sou dessa área, mas essa construção ideológica e uso político fundamentalista da Libras daria um belo estudo de ciência política.
    Se ainda não ficou claro: não sou contra a Libras em si, mas do uso que fazem dela. Entendo que ela pode (não deve) ser usada como instrumento AUXILIAR de comunicação, mas não como substituta “natural” da língua materna portuguesa-brasileira. Não é isso?
    Obrigado pela oportunidade de debater, abraços amigos a todos(as)!

    • Avatar photo laklobato disse:

      Olha, eles tem o direito de fazer o que quiser. Contanto que não seja a única maneira de ser deficiente auditivo do planeta. Pra mim, a Líbras não substui jamais o português falado e escrito. Quero ter direito legal e inegável de ter acesso à legenda, ao uso da minha voz oral, a trancrição de textos e a leitura labial, somada à boa vontade e compreensão.
      Entendo a sua posição perfeitamente. Se você, que nem é surdo se cansa disso, imagine nós, né?
      Beijão e obrigadissima pelo comentário!!

  17. Ewerton Luiz disse:

    Olá!

    Belíssimo texto, colocou os pingos nos is, é insuportável que pessoas escrevam bobagens sem conhecimento de causa, também dependo de leitura labial para compreender o que falam, sempre que possivel apelo para CC em programas televisivos, mas é de uma tolice sem tamanho alegar que deveria saber LIBRAS, para melhor compreensão.

    Se precisar de alguém para me defender, já sei onde encontrar! E também acho que existem mulheres de Marte e não só os homens. 🙂

    • Avatar photo laklobato disse:

      Saber Libras é um direito, não uma obrigação. O idioma oficial do Brasil é o Português. Temos direito legal de preferí-lo, a detrimento da Líbras. Quem prefere a língua de sinais, está no seu direito. Só que esse direito acaba quando começam a tentar forçá-la aos outros.
      Beijos

  18. Soraya Teixeira disse:

    Lak,

    uma aluno meu é professor de História de uma escola de ensino médio estadual aqui no ABC e me contou que está fazendo (ele e os colegas) um curso de Libras porque a instituição está passando por um programa de promoção de acessibilidade e blá, blá, blá… Achei muito bacana, fui fazendo perguntas a respeito e acabei querendo saber quais eram as ações a respeito de surdos oralizados. Ele me olhou com uma cara de interrogação enorme e ficou meio chocado quando eu falei que nem todos os surdos tinha Libras como língua-mãe… Daí eu fiquei refletindo se não se está fazendo um esforço enorme para criar políticas de “inclusão” que mais discriminam e que deverão ser modificadas em algum momento. Eu sou ouvinte, tenho três primas surdas (trigêmeas, duas oralizadas, uma usuária de Libras) e vejo que, mesmo nesse pequeno universo familiar, há uma segregação sem razão ou sentido de ser.

    • Avatar photo laklobato disse:

      Sim, essa impressão que você tem é verdadeira. Tudo porque a divulgação da existência dos oralizados é ínfima. Não somos um grupo forte, organizado, com associações que vão brigar pelos direitos em Brasilia… Complicado, né? A população em geral fica tendo acesso a apenas parte da informação necessária sobre deficiência auditiva. E ai?! Acham que Surdez = Libras e fim de papo.
      Beijinhos

  19. Fernando Cabral disse:

    Lak, esta matéria foi de arrasar !!!!!!! Concordo em grau, número e gênero com você !!!!!!!!! Ainda bem que tenho você para me defender…….burrice é uma coisa, já a ignorância……………

    Merci Lak !

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