Implante Coclear Híbrido

O Implante Coclear Híbrido ou Sistema de Estimulação Eletroacústica (EAS) trata-se de um sistema de implante auditivo formado pelas seguintes partes:

  • O aparelho externo, que possui uma antena, como o implante coclear, e um componente acústico, um molde que vai dentro do ouvido, como o aparelho auditivo convencional (AASI).
  • O implante interno que possui um feixe de eletrodos mais curto que o implante coclear tradicional, estimulando apenas a região responsável pelas frequências mais altas (sons agudos).

Em resumo, é um implante coclear que funciona simultaneamente como um aparelho auditivo, estimulando a cóclea com sinais elétricos, e a audição natural, através da amplificação do som.

Veja como ele funciona:

Sistema de Implantes Nucleus® Hybrid™ – Imagem: Cochlear (Divulgação)

Após receber o som por seus microfones, o processador externo envia os sinais sonoros através de dois caminhos simultaneamente:

  • Os sons mais agudos são enviados através da antena para o feixe de eletrodos posicionado dentro da região responsável por captar os sons mais agudos dentro da cóclea.
  • Os sons mais graves são enviados para o componente acústico e envia o som através do caminho natural da audição humana, atingindo as áreas da cóclea responsáveis por captar os sons mais graves.

O nervo auditivo receberá os sinais de todas as frequências e o cérebro interpretará o som de forma completa.

Indicação

O sistema Híbrido é indicado para quem tem uma boa audição residual nas frequências médias e/ou graves. Por conta dessa boa audição residual, o implante coclear nem sempre é indicado, sob risco de prejudicar a audição que a pessoa tem naturalmente.

Depoimento de um usuário

Como não existe nada melhor que um depoimento de um usuário, conheçam a história de Reginaldo Pancini Delallibera, que tive o prazer de entrevistar em 2011:

DNO: Fale um pouco de você, de onde você é, qual sua idade, o que você faz da vida.
Reginaldo: Eu sou de São João da Boa Vista SP, tenho 30 anos e trabalho como técnico em segurança do trabalho.

DNO: Você nasceu surdo ou perdeu a audição? Com que idade?
R: Eu nasci com a audição perfeita, até hoje nenhum médico chegou na conclusão do meu problema, o que indica ser meu problema é uma doença autoimune. Eu perdi a audição no lado esquerdo quando tinha 21 anos. Percebi que estava com um problema porque começou com um barulho [zumbido] no ouvido que não passava. Fui ao médico depois de uma semana, fiz uma audiometria e o resultado foi uma leve perda do lado direito. Passaram-se três meses até que fiz outra audiometria. Dessa vez o exame acusou uma perda bastante significativa. Aí, o médico receitou medicamento.
Três meses depois, fiz mais uma audiometria que indicou mais uma grande perda de audição, passei a ouvir só na frequência baixa. O lado direito continuava com audição normal, sem perdas. Porém, uns 4 anos depois, tive uma perda no direito, que permaneceu estável por um bom tempo. Em 2009, perdi quase totalmente a audição no ouvido direito.

DNO: Como é a sua audição natural, antes de ter feito o IC híbrido? Você utilizava aparelho comum? Conseguia ouvir bem com eles? Ouvia música, falava ao telefone, etc?
R: A minha audição sem aparelho é praticamente nula, eu só escuto os sons graves (baixa frequência) e a perda está em torno de 70 a 80 dB (as minhas audiometrias recentes ficaram na Unicamp).
Pra você ter uma ideia, não escuto nem um alarme disparado! E já aconteceu de o alarme do meu carro disparar à noite e eu não perceber. Isso porque ele estava bem no lado da minha janela do meu quarto…
Não consigo conversar com uma pessoa no meu lado mesmo numa sala silenciosa.
Até pouco tempo o aparelho ajudava muito, só no telefone que era complicado, mas de resto estava muito bem.

DNO: Como tomou conhecimento sobre o Implante Coclear? Você chegou a se candidatar ao IC convencional?
R: Eu já tinha um pouco de conhecimento a respeito do implante, pois pesquisei bastante sobre ele, mas quem me indicou mesmo foi um médico de Campinas.
E na época que comecei a fazer os exames não haviam lançado o IC híbrido.
No meu caso era meio complicado para me candidatar por seguinte motivo: como eu tinha boa audição residual nas frequências baixas e, por isso, eu não me encaixava para o IC convencional, embora houvesse alguns médicos que queriam fazer o convencional.
Mas nisso vai tempo e surgiu o híbrido e um médico que me atendeu logo no início que me falou desse implante.

DNO: Como ficou sabendo do IC híbrido? Em que ele é diferente do IC convencional, você sabe?
R: Olha, foi um médico que me indicou para esse implante, eu não sei ao certo mas eu sou uns dos primeiros a ser feito na Unicamp. Não sei se já foi feito em outro lugar.
A diferença (isso foi que me passaram) seria no próprio feixe de eletrodos que vai na cóclea. Outra diferença que recebo som tanto no implante como no ouvido implantado.

DNO: Teve dúvidas antes de decidir quanto a cirurgia? Se sim, o que você temia?
R: Eu cheguei numa situação que pensava o seguinte, “pior que está minha audição, não fica”. Então não tive muitas dúvidas não, fiquei muito feliz quanto fiz o implante.

DNO: Quais são os resultados do IC híbrido? Demorou para atingi-los? Precisou de fonoterapia para se adaptar à audição através dele?
R: Olha para essa pergunta ainda não vou ter como responder bem ainda, ele foi ativado há menos de duas semanas [entrevista realizada em junho de 2001]. Mas, por hora, está muito bem. Já compreendo a TV (claro que não 100%); vou na missa e já entendo bastante, não fico mais perdido. Só nos lugares com muita gente falando que eu estou apanhando ainda, porque é o seguinte: o som que vem do implante ele é bem diferente do som “acústico“ no híbrido, ele une os dois tipos de sons. Por isso, no começo confunde pra caramba, mas o som deve ser muito melhor do que o convencional tanto é que eu não estou precisando fazer fono.

Reginaldo e sobrinho

 

Modelos disponíveis no mercado:

Cochlear Nucleus 6 Hybrid

Os modelos processador do implante coclear Nucleus Freedom, Nucleus 6 ou Nucleus 7 são capazes de funcionar como um implante híbrido ao serem usados com o componente acústico juntamente com o eletrodo Hybrid L24.
Vídeo de como o Hybrid funciona

MED-EL SYNCHRONY EAS

Atualmente é utilizado com processador o Sonnet EAS e o componente interno Synchrony EAS. Modelos antigos funcionavam com os componentes internos Sonata (de titânio) ou Pulsar (de cerâmica) e os processadores externos Duet ou Duet 2.
Vídeo de como EAS funciona

 

24 Resultados

  1. Marcelo disse:

    Super interessante essa matéria, obrigado Lak por sempre trazer isso para seus leitores
    E parabéns ao Reginaldo Delallibera por ajudar a divulgar essa nova tecnologia
    Abraços!

    • Avatar photo laklobato disse:

      Pois é, né? Eu admito que só tinha ouvido falar, por alto, a respeito, mas não sabia praticamente nada do funcionamento dele. Agora sei… e vcs tb hahaha
      Beijos

  2. Mariana disse:

    Também curti demais. Quem sabe eu não me candidate? Meu ouvido bom só ‘pega’ frequência baixa… Mas primeiro, quero dar toda atenção ao meu IC lindo, a partir de sexta! 😳

  3. Giseli disse:

    Wow! Isso aí é muito legal! Tipo, eu ainda tenho audição residual no outro ouvido e nunca pensei em fazer implante coclear nele, justamente por não querer perder a audição residual. Mas esse implante híbrido eu topava! 😀

  4. Mariana disse:

    Que massa! Isso sim é uma novidade! =)
    Acho que esse é pro meu caso já que não me candidato com o IC mesmo.
    Mas uma parte de mim quer esperar o tratamento de celular tronco.
    Talvez mais pra frente surja alguma tecnologia melhores.

  5. Deni disse:

    Fazendo um trocadilho: “E assim caminha a tecnologia…”
    Legal saber que sempre há um modo para um ou outro tipo de perda e quando você divulga aqui Lak, dá aquele click nas pessoas; pois como você gosta de frisar, cada caso é um caso.
    Não vejo a hora de ter o meu IC… 😥
    Bjinhos geladinhos (do frio tá!)

  6. Adoreei a entrevista, e é bom saber que quem tem boa audição residual pode mantê-la agora. Viva a tecnologia, graças a ela surdos ouvem, cegos enxergam e deficientes fisicos andam (saiu inclusive na Veja dessa semana falando sobre o exoesqueleto que permite tal façanha). E assim como diz o jairo rs, a matrix vai dominar o mundo rs.

  7. LIGIA disse:

    Que interessante isso tudo!nem sei falar do meu caso..porque nao sei sobre as frequen cias da minha audiometria..so sei que tenho audicao residual…de resto nao sei como proceder ou me informar 😯

    • Avatar photo laklobato disse:

      Você poderia tentar entrar em contato com a Unicamp, só de curiosidade… Sei lá… Sem a sua audiometria (eu sei a minha de cor), fica difícil avaliar… mas.. audição residual quase todo mundo tem. Eu tb tinha. Mas era severa e não moderada.
      Beijos

  8. LIGIA disse:

    …E mais..ja estou em fase de pré-operatorio para fazer o IC..pelo visto o hibrido nao é feito no HC de Sp ne?e se for ver sobre hibrido nao sei como ficaria situacao do IC que ja estou para fazer cirurgia 😥

  9. Maíra disse:

    Fiquei confusa… Na parte externa tem tanto o aparelho micro como o que vai ligar com o chip?

    beijinhos

    • Avatar photo laklobato disse:

      Exatamente. Repara na foto menor. A parte externa une processador e antena (tal como um IC tradicional) e tb tem um molde pra ficar dentro da orelha (tal como um aparelho retroauricular). Ela faz as vezes de ambos: capta e converte os sons em ondas de rádio para a antena e capta e amplia o som para o aparelho.
      Tendeu agora??? Qq coisa, tentemos outra didática hihi
      Beijinhos

  10. Ligia disse:

    Mas Lak..qual contato da UNICAMP sabes me informar?outra coisa,como ficaria caso do HC?ja que esta tudo caminhando para fazer o IC por la…

    • Avatar photo laklobato disse:

      Lígia, pesquisa na net. Entra em contato com o Reginaldo…
      Sobre o HC, não faço idéia… Apenas sugeri, porque vc disse que estava interessada.
      Beijos

  11. Maíra disse:

    Então vem dois tipos de sons diferentes? Como assimilar isso?

    • Avatar photo laklobato disse:

      Maíra, o cérebro acostuma. Principalmente pq os ‘dois tipos de sons’ estimulam partes diferentes da cóclea. Eu mesma ouço via área num ouvido e por impulso elétrico em outro. O cérebro é programado para responder aos estímulos, ele acha um meio e se acostuma à ouvir desta maneira.
      Reginaldo falou disso na entrevista: “o som que vem do implante ele é bem diferente do som “acústico“ no hídrido, ele une os dois tipos de sons. Por isso, no começo confunde pra caramba, mas o som deve ser muito melhor do que o (IC) convencional”
      Beijos

  12. Olivia disse:

    Oi Lak! Eu tenho uma amiga em Buenos Aires com implante hibrido, mas a experiencia dela nao foi boa por agora. Gostaría de traducir e subir tua reportagem no blog (colocando a fonte, teu blog, claro)…. Posso? Beijocas, beijos sonoros e sempre saudades de vc.

    • Avatar photo laklobato disse:

      Mas claro que pode, querida…
      Pois é, esse é o primeiro usuário do IC hibrido que conheço e sinceramente, não posso atestar que funciona… O caso da sua amiga não foi boa pq, vc sabe?
      Beijocas e saudades muitas!!

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