Aventuras do Implante Coclear: A História de Marcelo

Já contei a história do Marcelo aqui, na minha versão.

Mas hoje, chega a vez dele mesmo contar a história dele:

 

Imagem de Marcelo sentado na cama hospitalar, de pernas cruzadas, vestido camiseta e short de pijama.

Marcelo aguardando a cirurgia

 

Meu nome é Marcelo nasci em maio/1986 numa família tradicionalmente Católica, no colo de minha mãe aprendi a religião, sou o segundo dos quatro filhos do casal

Quando nasci eu ouvia perfeitamente, nem imaginaria o que a vida haveria de reservar para mim, mas sou grato a Deus por todas as pessoas que ele colocou em meu caminho

Tenho uma irmã especial que é cinco anos mais nova que eu, quando pequena ela sofria com desmaios, espasmos e convulsão, ia quase todo mês para o hospital, então desde pequeno eu já estava ciente que ela precisaria de cuidados especiais, e a gente sempre teve um carinho especial por ela.

A descoberta da minha surdez e a compra dos AASI

Em 1995 eu estava na 3º série do ensino fundamental, até era um bom aluno, mas no decorrer daquele ano comecei a ter dificuldades, não aprendia com facilidade e não respondia alguns chamados, a professora então percebendo esses pequenos detalhes chamou meus pais na escola, foi então que comecei a ir ao otorrino para saber o que estava acontecendo comigo, e em alguns meses eu já estava com perda profunda nos dois ouvidos (tive caxumba) naquele ano acabei sendo reprovado na escola,

Sabendo que eu precisaria usar aparelho auditivo e sem condições financeiras meu pai até cogitou em vender a nossa casa para comprar os aparelhos, mas ao saber disso, minha avó e uma tia em especial saíram em busca de apoio para comprar meus aparelhos, e em poucos meses com ajuda de várias pessoas eu estava com meus dois aparelhos e feliz em poder ouvir de novo

Tive meu primeiro AASI em março/1996 e creio que nunca fiquei mais do que 3 dias sem usá-los, criei uma intimidade com meu aparelho que sem ele diminui minha auto estima

Adolescência e a Libras

Em 1996 agora com dois aparelhos eu estava começando a “viver de novo” não tinha mais uma audição perfeita como antes, mas com o AASI e usando a LOF eu vivia sem muitas dificuldades, desde pequeno eu me virava sozinho para muitas coisas, sempre fui feliz e o fato de eu ter ficado surdo não mudou isso

Em 2003 conheci vários surdos e naquela época nem imagina o quanto aprender Libras seria interessante para mim, quando eu passava perto de amigos surdos sinalizados eles tentavam conversar comigo e eu não entendia nada, apesar de eu não ter dificuldade na comunicação achei fascinante o fato de aprender Libras, hoje a uso para conversar com vários amigos que são surdos sinalizados, já fui voluntário em ONG, e também participo de movimento da pastoral dos surdos (igreja Católica) já interpretei para surdos em diversos lugares, e amo isso (ninguém na minha família sabe libras)

imagem do Marcelo deitado no leito hospitalar, vestindo avental e com um curativo em forma de turbante, que protege a orelha onde foi inserido o implante coclear

Marcelo com o turbante de implantado.

Implante Coclear o começo

Eu já havia visto o Implante Coclear, mas nem passava pela minha cabeça que um dia faria aquilo, em 1996 quando perdi a audição e quando o IC ainda estava começando um médico comentou com meu pai sobre eu fazer a cirurgia, mas minha família não aceitou (creio que naquela época ainda estavam em teste) e como eu consegui me adaptar ao AASI estava tudo tranqüilo…

No inicio de 2010 eu comecei a pesquisar sobre o IC, não sabia absolutamente nada a respeito dele, foi então que comecei a me interessar, e sabendo que o IC seria melhor que o AASI, fui atrás desse grande sonho, fui para São Paulo no hospital das Clinicas e comecei uma saga, estava super animado, mesmo sabendo que não seria fácil eu queria muito ouvir melhor, muita gente a principio achava que isso seria uma loucura e eu me virava sozinho com muitas coisas e não tinha dificuldades para quase nada, mas eu pensava como seria ouvir as serenatas do grilo, barulho da água, falar ao telefone, eu então coloquei na minha cabeça “Eu quero ter o IC, e eu vou conseguir”

Conhecendo alguns usuários

Assim que eu desejei ter um ouvido biônico, minha pesquisa pelo IC aumentou, conheci pessoalmente e virtualmente dezenas de implantados e vendo os resultados que eles tem, aumentou ainda mais a minha vontade de fazer a cirurgia, logo comecei a participar dos encontros do FIC e fazia amizade com o pessoal

Minha cirurgia e a recuperação

No dia 27 de julho de 2011 foi um dia especial para mim, o dia da minha cirurgia, a minha saga não foi fácil, mas foi gostoso, passei por muitas dificuldades (e muitas mesmo), e tive que enfrentar tudo em busca do meu sonho, mas o grande dia havia chegado e eu finalmente estava lá, estava todo sorridente, super feliz, sem medo nenhum, estava super preparado para realizar um grande sonho. A cirurgia foi super tranqüila e tudo ocorreu bem, ao sair da sala de observação e ir para o quarto, a primeira coisa que eu fiz, foi pedir meu celular para minha irmã, e assim que peguei meu celular, a primeira coisa que fiz foi mandar uma mensagem para a Lak, queria ter ela comigo ali naquele momento tão especial, ela me ajudou muito nas dificuldades que eu tive e sempre me apoiou, sempre que eu tinha uma dificuldade ela estava pronta para me ouvir e me dizer “Não desista!” pouco tempo depois de eu mandar a mensagem para ela, ela estava lá me visitando, e minha alegria foi enorme, estava muito feliz, e mesmo usando apenas um aparelho (no ouvido direito) eu consegui conversar com a Lak sem dificuldades, e eu estava super bem após a cirurgia, e muito feliz

Lembro que naquela noite no hospital, sofri muito mais com o jogo do time que torço (que ganhou de 1 x 0) do que com os efeitos da cirurgia, enfim aquela vitória foi para terminar meu dia que foi especial.

A minha recuperação também foi super tranqüila, não senti dor e nem incomodo.

 

 

Imagem de Lak (sorrindo para a câmera) e Marcelo, com seu curativo em forma de turbante que protege a orelha do lado em que foi inserido o Implante Coclear.

Não poderia faltar uma foto nossa, né?

A ativação

(nota que coloquei no meu facebook no dia 25 de agosto, dois dias após a ativação)

Sobre minha ATIVAÇÃO. A fono havia me explicado como monta o implante e como ia ser a ativação, após ela montá-lo e colocar o processador de fala em mim, eu comecei a ouvir alguns barulhos esquisitos, eram muito baixinhos, muito mesmo e aos poucos trocava os sons, chegou então o momento em que ela ligou todos os eletrodos e então eu comecei a ouvir aquele interminável apito, conseguia ouvir, mas pensava: “Que barulho era esse?”, eu olhava para os lados tentando achar alguma pista mas nada, de repente ouvi um apito e a fono me perguntou: “Esta ouvindo” entendi pela leitura labial e disse que “sim!”, e ela falou que aquele barulho era a voz dela, naquele momento fiquei mais seguro, eu estava ouvindo depois de 16 anos, sei que não seria fácil, mas foi divertido. Naquele momento minha irmã que estava m e acompanhando, falou algo e eu percebi um apito diferente, nisso pensei: É a voz dela, e depois a fono falava e vi que os apitos soavam de forma diferente para mim, quando as duas falavam ao mesmo tempo, era um pouco mais forte o apito e quando as duas ficavam em silêncio, sentia um barulho estranho parecia o som de uma melodia, eu estava tão feliz que nem me importava com aquele barulho que parecia não ter fim, depois quando a fono programou tudo, ela me ensinou como usar o controle remoto e me orientou sobre os programas e o volume, logo após me mostrou aquela caixa com os acessórios que eu usarei com o IC, foi show! Eu não sabia se naquele momento eu estava mais prestando atenção nas explicações dela, ou se me deliciava com os apitos ritmados da voz dela? Após tudo isso, liguei meu celular e coloquei umas das minhas musica favoritas “Right Here Waiting” ( Richard Marx) e tentei ouvi-la, não foi possível mas nos dois primeiros minutos da musica eu conseguia sentir aqueles sons e acompanhar a musica, gostei muito mesmo. Após isso ela desligou, porque naquele momento eu precisei tirar o IC, para mim foi muito estranho sentir aquele silêncio de novo, ficou um vazio enorme, e eu já queria colocar o IC de novo, já criamos uma intimidade.

Ontem, primeiro dia usando o IC foi legal, ainda não consigo distinguir os sons, mas já percebi pequenas diferenças entre o som de ônibus, caminhão e de um S10, ontem finalmente voltei a trabalhar, e a felicidade é tanta que ás vezes transborda em lagrimas.

Estou feliz com o Implante e acredito que ele me ajudara e muito a entrar novamente nesse mundo dos sons!

Abraços!

Imagem da fonoaudióloga Ana Teresa, colocando a parte externa na cabeça de Marcelo. Ela está em pé, ao lado dele, segurando algo com as mãos, contra a cabeça dele. Ele, sentado, aguarda pacientemente enquanto a fono ajusta o IC à cabeça dele.

No dia da ativação, com a Fga. Ana Teresa.

Um mês depois de ativado

Hoje depois de um mês de ativado já percebi que o IC valeu a pena, ainda não consigo ouvir tudo, mas já consigo distinguir vários sons, e estou fazendo fonoterapia o que vai me ajudar muito a reaprender a ouvir

Um grande abraço a todos os leitores do DNO

 

 

Beijinhos sonoros,
Lak

17 Resultados

  1. SôRamires disse:

    Pouco a pouco amigos virtuais dos grupos de surdos oralizados vão colocando implantes, é emocionante! E o mais lindo é ver que os implantados mais antigos vão dando a mão, informação, incentivo, estímulo, coragem para os que vão chegando às maravilhas de recuperar a capacidade de ouvir.
    E este blog, o DNO ou melhor o blog da Lak é uma fonte poderosa de informação, estímulo e força para os pais de crianças surdas e para os surdos adultos candidatos ao implante. Aprendo muito sobre implante lendo esses relatos e não sendo implantada quando me perguntam sobre o assunto o blog da Lak é o endereço certo. Lindo trabalho amiga! 😈

  2. Mariana disse:

    Assino embaixo do comentário de SôRamires. Lak foi essencial para mim nessa saga!

    Eu vou fazer fonoterapia também! Devo começar próximo mês, não vejo a hora 😀

    Bjocas

  3. mara klitzke disse:

    Que história linda! Fiquei emocionada com a história do Marcelo. Que Deus o abençoe e que sua terapia transcorra com muito sucesso.
    Beijos Lak 😉

  4. Deni disse:

    Oi Lak, ando ausente por aqui, (é que para comentar tenho de ler com calma né, e não pela leitura dinâmica) 😳 , mas não poderia deixar de dar meu pitaco aqui hoje, até pq eu fiz o IC na mesma época que o Marcelo, apenas 2 dias depois; e claro como havia te comentado, decepção total na minha ativação, mas nenhum momento de arrependimento. Hoje estou no programa 4 e já ouço algumas coisinhas e digo que o fato de ter iniciado a fonoterapia logo no dia seguinte da ativação foi de suma importância para eu não ficar desanimada!

    Portanto ao Marcelo e também a Mariana, vão com tudo na fonoterapia! Ela realmente faz uma diferença muito grande na adaptação do IC, mesmo que sejamos oralizados e já conhecemos os sons e as palavras. (eu que o diga, a sabichona aqui achava que não precisava… 😛 )

    Um beijo a todos!

    PS. um dia compartilho minha historinha… devo isso a você! 😈

  5. Deborah disse:

    Parabéns ao Marcelo por superar mais uma etapa.

    Acima de tudo parabéns à Lak por ser quem é.

    Lak, mil dúvidas na minha cabeça depois de ler o depo do Marcelo. Como a gente vai saber o que a Joana vai ouvir se ela fizer o IC ainda bebê????? 😀

  6. rodolpho disse:

    parabéns, marcelo.
    muito interessante sua história.
    e parabéns lak, por ter ajudado maaaais um, como diz o jairo marques, prejudicado dos ouvidos, kkkkkkk a fazer o ic, digo, ter dado um insentivo pro cara, né? hehehe
    ah, marcelo, só curiosidade, nada demais: que time você torce? hahaha

  7. Drauzio Junior disse:

    Oi Lak!

    Que bom saber que o Marcelo está indo bem!
    E sim vai aumentando o número de inscritos na irmandade cyborgueana.

    Um abração!

    Drauzio.

  8. Greize disse:

    Deus te abençoe Marcelo. Pelo relato vc parece ser uma pessoa simples e perseverante.Desejo mtas outras vitórias com o IC.bjoss

  9. fatima disse:

    Olá,
    Então, eu te falei que tb fiz IC, e tô me adaptando bem ,mas já há 10 meses ,em RIBEIRÃO . Correu tudo bem ,e já tô começando fonoterapia com música, e espero cada vez mais alcançar meus objetivos que são, por últimos,os sons,já reconheço alguns instrumentos musicais e, atender tel.Mas tô feliz com oque já ouço ,muito melhor que nada .Somos corajosos heim! Parabéns viu! DEUS abençoe ,tudo de bom pra ti !
    Tb faço parte da irmandade cyborgueana com muito prazer hahahaha.Bjão.

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