Nos vemos em breve, certamente!

Ontem, Raul Sinedino, meu amigo, me mandou um SMS “Você tem post programado para amanhã no DNO? Se não tiver, quero escrever um texto em homenagem ao Jobs”. Respondi que tudo bem, que hoje seria espaço pra ele contar como esse homem mudou a vida dele. E a minha. E a de tantas outras pessoas do planeta que se beneficiaram com a criatividade e a iniciativa de um dos maiores gênios da atualidade.

Vi algumas pessoas fazerem pouco caso com a morte do Jobs “ele nem sabia que eu existia”. Pois bem, alguém que não sabe que você existe mas transforma a sua vida, até mesmo sem que você saiba, é uma pessoa que merece ser homenageada.

Raul é surdo de nascença, oralizado e usuário do Implante Coclear, portanto, sabe melhor que ninguém como tecnologia pode abrir um mundo diante daqueles cuja natureza não segue o padrão habitual dos seres humanos e, portanto, precisa de uma mãozinha para fazer algumas coisas que a própria biologia nega!

Introdução por Lak Lobato

Em uma bela manhã de um domingo de 1987 começava a minha relação com Steve Jobs. Naquele dia sequer imaginava que, 24 anos depois, ele fosse me proporcionar uma das maiores emoções que tive na vida – talvez até maior do que ouvir com o Implante Coclear pela primeira vez. Naquele ano, meu pai comprou, para uso profissional, um Macintosh da Apple, e eu me deparei, maravilhado, com aquela engenhoca. Minha afinidade com aquele computador do meu pai começou pelo logotipo lindo da maçã colorida e a tela preta com letras verdes.

imagem do antigo logo da Apple, desenho de uma maçã com uma pequena mordida, colorida como arco iris: verde, amarela, laranja, vermelha, roxa e azul. Abaixo, a frase "Think different." em fundo preto.

Mas a identificação de verdade iniciou quando meu pai resolveu programar o jogo da forca para eu brincar e, ao mesmo tempo, melhorar o meu vocabulário, talvez um pouco defasado em relação à surdez. Sem querer, com o Macintosh, Steve Jobs já começava a incluir em seus computadores uma forma de acessibilidade para os deficientes auditivos, o que até hoje as empresas, por incompetência ou má vontade, insistem em ignorar.

No jogo da forca meu pai incluiu milhares de palavras cujo significado eu deveria descobrir antes de aparecer o boneco enforcado.
– Pai, o que significa indivíduo? – eu perguntava
– Filho, olhe o dicionário, coloque-o ao lado do computador e sempre que tiver dúvidas, consulte-o – respondia ele.

Confesso que, naquele momento, me bateu um enorme desânimo. Mas o jogo da forca, aliado ao dicionário, contribuiu para que eu desenvolvesse um excelente vocabulário. Outra vez, tentando adivinhar a palavra, comecei a pensar na vida que levava, olhando fixamente para o logotipo colorido da maçã. Não sabia o que aquela maçã significava, mas parecia que queria me dizer: ainda vou ser sua companheira em muitos momentos da sua vida. E vou te proporcionar grandes emoções.

Imagem do antigo computador da Apple, que era uma só caixa com a tela e a CPU, com entrada pra disquete e um teclado. Ambos beges.

Depois da saída de Jobs, a maçã colorida mergulhou num período de trevas, talvez com sérias consequências: se olharmos para o logotipo atual, veremos que as cores foram abandonadas, não mais existem. Foi neste período que a Apple assistiu, impotente, o sucesso do Windows. Só que este cometeu um pecado mortal: suas famosas telas azuis eram almas gêmeas da falta de familiaridade sentida pelos usuários. Ao longo do tempo, tive o Win3.11 e o Windows 95, quando surgiu internet, uma das das mais importantes revoluções na minha vida, por significar uma independência parcial. Parcial, porque esbarrava, como até hoje, na falta de acessibilidade pelas quais lutamos até os dias de hoje.

Chegou o Windows 98, 2000, Milenium, XP, Vista, Seven. Neste meio tempo, a Apple ressurgiu, mas fora da minha realidade, devido aos preços exorbitantes. Apesar disso, os produtos da Apple me fascinavam, e o logotipo da maçã ainda teimava em seduzir meus olhos.

Surgiram os smartphones e, com eles, a Apple iniciava a revolução no mundo dos celulares com o seu brinquedo de estimação, o iPhone. Apesar de iPhone 2 não chegar a ser vendido no Brasil, era possível ser visto nas mãos de alguns brasileiros que compraram o brinquedinho no exterior. Em 2008, surgiu o iPhone 3G, o qual já permitia o acesso as redes 3G, o que despertou de imediato o meu interesse.

É possível fazer videochamada?
– Não.

Ok, foi a minha primeira decepção. Mas a maçã ainda teimava em me perseguir. Surgiu o iPhone 3Gs.
– É possível realizar videochamada?
– Não – disse o vendedor, acrescentando: Mas temos o Omnia da Samsung que realiza videochamada.

Comprei o aparelho na hora, mas se arrependimento matasse já estava a sete palmos. Que decepção, a começar pelos toques e pelas videochamadas com os famosos delays que dificultavam qualquer leitura labial pelos surdos oralizados.

Mas a maçã continuava atrás de mim e eu atrás dela.

Finalmente, chegou o iPhone 4 que, dessa vez, permitia as vídeos chamadas pelo Facetime. Pensei: novamente, a mesma relação de amor com a maçã, a mesma que vivi no ano de 1987. Comprei no dia do lançamento.

Mas e agora? – pensei — com quem vou testar o facetime, já que, até aquele momento, as vídeos chamadas eram realizadas só entre iPhones 4 e via wi-fi?

Passei uma semana procurando algum amigo que tivesse o iPhone 4. Sem sucesso.

Deixei para lá. Uma hora eu testo, pensei.

Numa bela manhã de domingo de 2010, Lak Lobato, uma amiga, surda oralizada que mora em São Paulo, me revelou a novidade. Disse que havia comprado o iPhone 4 e seu marido também, para que pudessem conversar, via facetime. Logo disse que eu também tinha o aparelho e combinamos testar o facetime, right now.
– Me liga – disse ela.

Imagem da tela do iPhone em videochamada. Aparece uma imagem minha preenchendo a tela toda. E uma imagem pequena, no canto direito no alto, do Raul, olhando pra tela. Abaixo

Quando liguei, mal sabia que teria uma das maiores emoções da minha vida, sem conseguir esboçar qualquer reação. Era a minha primeira conversa no telefone em tempo real, e ela aconteceu de forma espontânea e tranquila, sem aqueles famosos delays típicos de webcam e celulares. Eu não sabia se chorava ou se continuava a conversa. E o mais engraçado é que, de início, mergulhei numa enorme confusão, pensando:

– Mas o que eu falo no telefone? O que se costuma falar no telefone? Eu nunca tinha falado com alguém no telefone.

Quem ouve pode telefonar para um amigo e contar qualquer bobagem, o que é muito bom. Nós, surdos oralizados, nunca pudemos. Num passe de mágica, a invenção de Steve Jobs acabou com a dependência e o aprisionamento emocional dos surdos.

O Steve Jobs deve achar apenas que, mais uma vez, foi responsável por um avanço na tecnologia. Com certeza, jamais irá saber da pequena revolução pessoal que provocou na vida de dois surdos oralizados em um dia do ano de 2010. Sem qualquer exagero. Um verdadeiro show de acessibilidade!

Mas a Maçã ainda queria me proporcionar novos sentimentos, quando adquiri, dez meses depois, o iPad 2. Mais uma vez fiquei maravilhado com a tecnologia, e comecei a explorar os aplicativos que ele oferecia. Um deles ensinava português a estrangeiros. Pensei: pode ser bem legal se conseguir fazer treinamento auditivo com ele. Não me enganei na intuição: fiquei em êxtase ao ouvir palavras e, melhor, a identificá-las. Fiquei muito feliz de saber que ainda consigo reconhecer palavras auditivamente, uma vez que parei de fazer fonoterapia. As dificuldades são muitas e o governo não ajuda, ao abocanhar uma grande parte do meu salário, via IR, sem garantir qualquer abatimento para gastos com serviços imprescindíveis, como treinamento e terapia de voz, para os surdos oralizados. E ainda cobra imposto de importação de qualquer equipamento e produto necessários (pilhas, aparelhos auditivos, acessórios). Trata todos como bens para o mais puro entretenimento.

Mas, o que o governo rouba de mim, desde a infância – o direito a treinar ouvir e falar – a Apple de Steve Jobs me devolve, hoje, através do maravilhoso aplicativo de treinamento auditivo e do Facetime. E ainda tem outra novidade no iOS5, o despertador vibratório que, com certeza, vai facilitar a vida de muitos surdos oralizados que conquistaram a independência e moram sozinhos. É certo que a Apple cobra pelo produto, e no Brasil o preço é salgado. Mas devolve em serviço o dinheiro investido. Já com os impostos, no Brasil, eu penso que só sustento um monte de corruptos deputados.

Não é que aquela maçã, que já não era mais colorida e, sim, cinza, tinha razão e era o que tentava me dizer em um dia do ano de 1987?
Odiado ou adorado, uma coisa não podemos negar: Steve Jobs deixou um grande legado na área de acessibilidade para os surdos oralizados e também para os deficientes visuais, como disse Stevie Wonder, possibilitando o acesso antes negado. Acho que o melhor de tudo é que Steve foi embora sabendo disso. Em uma das reuniões da Apple, ele, emocionado, disse que tinha recebido um e-mail de uma mãe agradecendo a criação do iPad. Com o equipamento, a filha dela, portadora de uma doença que dificultava o aprendizado da leitura da escrita, começou a ter excelentes resultados.

Por tudo isso que me proporcionou, como também a outras pessoas, confesso que hoje foi um dia de grande tristeza , ao saber da morte de Steve Jobs. Como não tenho o poder de ressuscitar ninguém, digo apenas: Obrigado por ter existido. Nos vemos em breve, certamente!

Imagem do Raul, bem escura, que mal se vê o rosto dele. Dá pra ver apenas uma silhueta. Ele segura um ipad com a imagem de três velas acesas. Duas pequenas e largas e uma mais alta.
Imagem de um quadrado preto, com fonte branca dizendo "Três Maçãs mudaram o mundo. A de Adão. A de Newton. E a do Steve Jobs. Uma imagem do logo da apple (uma maçã mordida) com a silhueta do rosto dele onde seria a mordida. No canto direito inferior, uma imagem dele sério, de óculos, segurando o queixo e os dizeres 24-02-1955 e 05-10-2011, data de nascimento e óbito de Steve Jobs

Certamente, o Céu ganhou uma estrela às custas da Terra perder um pouco do seu brilho!

Beijinhos sonoros,
Lak Lobato

40 Resultados

  1. Eu confesso que fiquei deveras chateada com a morte de Jobs, eu como a pequena nerd/geek que sou, conheço o trabalho de Jobs desde os meus 5 anos quando comecei a me interessar por computadores. Ele era um visionario, e o facetime com certeza mudou vidas.
    Parece bobo se sentir triste pela perda de alguém que não conhecia, mas ele popocionou muita coisas a todos nós.
    Espero que mesmo sem o grande visionario inovador, a Apple continua a crescer e ajudar cada vez mais as pessosas. Dscanse em paz Jobs.

  2. AH detalhe, nasci ouvinte e vivia no tel, mas hj em dia n sei nem oq falar.

  3. Raul disse:

    Realmente é muito difícil ficar triste com morte de pessoas famosas que sequer conheço, mas a do Jobs me abalou muito. Talvez pelas emoções que ele me proporcionou com as invenções dele.

    Quis escrever um texto como homenagem a ele, assim me sentiria melhor e estaria expressando a minha gratidão pela genialidade dele. 😳

  4. Triste é saber que a Apple jamais será a mesma sem ele.

  5. rodolpho disse:

    também fiquei triste com a morte do home. hehehe
    mas se não fosse por ele, os cegos não poderiam usar o iphone, que tem múita acessibilidade, aliás, muito mais até que o próprio talks, um outro leitor de telas pra celular, só compativel com celulares da noka.
    eu ainda quero uma maçã daquela; já mordi a maçã de outas pessoas, mas nunca tive a minha pra morder, ainda. kkkkkkk

    • Avatar photo laklobato disse:

      Diz que o iPhone 4S é ainda mais acessível pra vocês, né? Faz tudo tudo tudo por comando de voz!!
      Torcendo pra sua maçã cair na sua cabeça, ops, mãos, o quanto antes!!
      Beijos

  6. Yuri Sandro disse:

    Parabéns!!! Tb sou grato a Jobs. Somente virei applemaníaco neste ano dps de comprar iPhone4 e passei a conhecer melhor Jobs. O FaceTime é grande benefício pra nós surdos!

    • Avatar photo laklobato disse:

      Com certeza… A emoção de falar com o Raul naquela primeira vez que conversamos… não tem palavras suficientes no mundo capazes de descrevê-la. Era a primeira vez que ele fazia isso. E a minha primeira vez, em muitos anos, que conversava com um amigo pelo telefone, antes disso, só tinha falado com o marido.
      Sou eternamente grata pelo Jobs ter criado essa videochamada por wifi.
      Beijos

  7. Fernando Cabral disse:

    Comprei o meu primeiro MacIntosh faz 6 meses e fiquei maravilhado com a interação dos diversos programas que o sistema operacional OSX promove entre eles. Sempre sonhei em ter um “apple device” e estou muito satisfeito ! Jobs que sempre se vestiu de maneira humilde e morou em uma casa modesta foi um exemplo de vida para todos e provou que a principal arma para se vencer no mundo corporativo é a inovação ! Sem querer ele mudou a vida dos deficientes auditvos ! É incrível quando alguém cria algo e acaba impactanto a vida de outras pessoas que necessitam justamente de um recurso que faz toda a diferença. Vide o caso do Viagra, que era um simplesmente uma droga para hipertensão e acabaram descobrindo os efeitos colaterais (desejados !!!!). Jobs ficará na história e sempre dizia nunca “desista dos seus sonhos”!

    • Avatar photo laklobato disse:

      Eu trabalhei com Mac, pela primeira vez, há mais de 11 anos, no meu primeiro estágio de faculdade. Depois que você aprende a facilidade que é mexer no sistema Mac Os, não consegue achar o windons muito bom não. Especialmente se trabalha com imagem hehehehe Enfim, caro os produtos da Apple são. Elitistas? Também… Mas de excelente qualidade e que valem o preço que cobra! Aos Applemaniacs, uma perda inestimável. Aos deficientes auditivos que tiveram a vida transformada pela genialidade do Jobs, nossa gratidão eterna!
      Beijos

  8. Denise disse:

    Também tenho uma relação de amor antiga com essa famosa maçã… e sim, fiquei muito triste com a morte de Jobs, mas no fundo todos nós sabíamos que ela estava próxima…
    Penso que há um conjunto de fatores que fizeram a Apple ser o que é, mas sem dúvida a aura de Steve Jobs era a mais forte delas.

    Torcemos para que a Apple continue sendo visionária, que faça jus ao legado de seu criador.

    Bjos,

  9. Carol Soria disse:

    Emoção! Qdo fiz o facetime pela primeira vez com a Lak, me senti exatamente assim! Raul captou a essência do momento! Eu nem sabia o que falar! hehehe! Até hoje só fiz 3 chamadas, com minha mãe, com a Lak, e com uma amiga! E que venham maisssssssssss! ehehe

  10. rodolpho disse:

    eu ouvi falar mesmo nesse comando de voz, o siri, parece.
    queria testar.
    e a maçã só vai chegar pra mim quando alguma boa alma da família quiser me dar, né? kkkkkkkk
    enquanto isso, eu fico com meu amigo e63 da nokia que tá bão demais. kkkkk

  11. Renata disse:

    Lak e Raul o mundo ficou mais pobre em termos de criatividade. obrigada pelo lindo texto. bom fim de semana

  12. Paula Pfeifer disse:

    Geeeeente, a capacidade que esse blog tem de me fazer chorar – sempre no trabalho kkkk – é ALGO!!!
    Raul, arrepiante teu texto.
    Tenho me sentido assim agora “oq é q se fala no telefone?”, “como é q se fala no telefone?” desde que importei um telefone residencial com bluetooth dazeuropa! Rsrsrsrs.
    Atendi umas ligações e no fim so conseguia pensar COMO ASSIM EU TO FALANDO NO TELEFONE, MELDELS???
    Com o FaceTime ainda tenho um ‘probleminha’, pois quando tento com o Tek ou miniTek (os controles remotos que conectam via bluetooth/cabo meus AASI ao ipod touch) eu ouço direitinho nos aparelhos um baita som mas a pessoa nao recebe meu áudio – mesmo assim, minhas primeiras chamadas via FaceTime foram com o bom e velho fone de ouvido com o volume no ultimo e os dedos apertando e ajudando, sem AASI. E foi uma EMOÇÃO!! Realmente é outra coisa falar com alguem vendo a pessoa, depois disso SMS vira algo impessoal, né?
    To suspirando aqui.
    Beijo enorme nos dois!
    E como dizem, o Steve fez upload pra iCloud – logo logo a gente encontra ele lá!

    • Avatar photo laklobato disse:

      hauhauhaua realmente, a é tão pouco habitual pra nós, que falar no telefone soa bem esquisito mesmo. Quem sabe, num futuro não muito distante, a gente acostume com isso e aproveite??
      Legal que vc tá conseguindo usar o bluetooth!! Sensacional.
      Beijos

  13. Raul Sinedino disse:

    O Siri tb será extremamente essencial a nós para treinamento de fala uma vez que o iPhone só te entenderá se falar direitinho. Não é uma pessoa, portanto jámais se acostumará com sua voz. Sem falar nos aplicativos que serão criados. 😈

  14. Deborah disse:

    Adorei a sua história, Raul. Eu sempre fui mais da “ala Windows”, sempre tive um pouco de dificuldades com a interface da MAC, o que não me faz admirar menos o gênio do Jobs. Tenho fé que ele tenha treinado aprendizes e dado chance a outros gênios criativos para dar continuidade ao trabalho dele na Apple. Meio difícil ter dois Steve Jobs numa mesma geração, mas não é impossível.
    Só tem uma coisinha que eu não entendo e, talvez, você e/ou a Lak possam me explicar: se vcs são surdos oralizados e implantados o que os impede de falar e ouvir num telefone normal? Pura ignorância da minha parte aliada a uma imensa curiosidade e vontade de aprender.
    Bjs! 😀

    • Avatar photo laklobato disse:

      Exatamente porque somos SURDOS oralizados e não deficientes auditivos apenas. Raul nasceu surdo e eu fiquei 23 anos em privação auditiva. Nenhum de nós tem boa discriminação do que ouve, porque não basta que o som chegue ao cérebro para que se entenda o que é. O cérebro tem prazo de formação da área de compreensão sonora, daí a luta para que as crianças nascidas surdas sejam implantadas no prazo adequado para a formação dessa área. Raramente alguém que nasceu surdo e foi implantado tarde vai ter boa discriminação de palavras para falar perfeitamente ao telefone. Meu caso, pelo tempo de privação auditiva, também é lento e sem garantia de que conseguirei discriminar bem a fala sem apoio da leitura labial. Somente quem faz o IC logo que perde a audição tem resultado garantido e rápido. Mas, o IC tem limitações em relação a audição normal e mesmo quem faz o IC logo, pode ter um pouco de dificuldade nessa área. Dai a necessidade de um apoio visual, que o FaceTime permite! O IC ajuda muito, mas não resolve totalmente a perda auditiva de 100% dos casos. Ainda assim, ajuda imensamente!

  15. Greize disse:

    Ele nem sabia que a gente existia?Sabia sim, ele fazia pensando nas milhares de pessoas que iriam utilizar,era dai que vinha sua motivação, ir de encontro as pessoas que ele sabia que jamais iria conhecer.Tdos os gênios pensam assim.Descanse em paz.Parabéns pelo texto.

  16. Mariana disse:

    Querida, passei para te deixar um beijo e dar uma força. Não desiste, o teu trabalho é super importante.

    beijos

    Mari

  17. Raul Sinedino disse:

    Deborah, que bom que gostou. Foi escrito com coração e eterna gratidão pelo que o Jobs me proporcionou.

    Então, como a Lak disse, sou surdo de nascença e não tive oportunidade de formar memória auditiva pois não tinha ganho com aparelhos auditivos. Apenas me davam uma noção de som. Assim, desenvolvi a minha oralização através de fala e leitura labial. Como fui implantado muito tarde, com 27 anos de idade, o processo de desenvolvimento da memória auditiva pra voz humana é um processo lento já que não tenho a mesma neuroplasticidade cerebral e já tenho vícios de linguagem, isto é, uso a leitura labial deixando a audição de lado. Apesar disso, ter feito o IC foi a coisa mais acertada já que reconheço muitos sons que não ouvia com aparelho auditivo. Como o IC é uma coisa nova, nunca se sabe como será a minha audição daqui a 10, 15 anos. Vai que o cérebro dá um link do nada e começa a entender tudo.

    Beijos

  18. Raul Sinedino disse:

    *a mesma neuroplasticidade cerebral de uma criança em desenvolvimento da linguagem.

  19. Fernando Cabral disse:

    Caros Raul e Deborah, queria lhes dizer que nada é impossível neste mundo !!! A limitação é coisa da nossa própria mente !!!!! Eu sempre tive memória auditiva e falo 100% ao telefone. Entendo 100% do que é dito do outro lado….como se consegue isto ? Com muito treino, PERSEVERANÇA e “don’t ever give up” !!! Sei que cada caso é um caso mas é possível sim com as infinitas possibilidades de programação do IC vencer a barreira do telefone. Go for it !!!!!

  20. Rogerio disse:

    Caraca, que texto impactante! Eu me lembro de seu post relatando a conversa que teve com o Raul pelo Facetime e, principalmente, a emoção dos dois. Sou meio pessimista com relação à sucessão na Apple, porque Steve Jobs tinha um diferencial hoje considerado anacrônico: ele tinha paixão pelo que fazia. Li, há alguns meses, uma reportagem sobre a trajetória dele na empresa (o cara chegou a ser demitido da empresa que criou, é mole?). A matéria, já antevendo o desfecho iminente, citou prováveis candidatos ao seu lugar, e todos estão focados no mercado, ou seja, na massificação visando o maior lucro possível. Nenhum deles demonstrou o espírito de Jobs, nenhum tem qualquer cacoete de visionário. Espero estar errado, mas parece que não haverá tanta novidade doravante, considerando o perfil dos candidatos a sucessor.
    Grande abraço no Raul, beijão procê.

  21. Silvio Sinedino disse:

    Olá!
    Já tinha lido muitos comentários sobre a perda do Steve Jobs, mas não tinha me tocado da importância especial que sua genialidade teve para os surdos oralizados.
    É pena que tão poucos possam se beneficiar devido ao alto custo, que bem poderia ser aliviado pelo Governo se este soubesse a diferença entre lazer e direito básico à comunicação.
    Raul, meu filhote, lindo texto, nem lembrava mais do seu joguinho da forca, mas acho que foi antes de 87!
    Abraços a todos do
    Silvio Sinedino.

    • Avatar photo laklobato disse:

      Hehehe é licença poética do Raul, Silvio. Inclusive, quando nos falamos a primeira vez, eu estava no trabalho, logo, não podia ser domingo. Mas, respeitei o texto, por licença poética mesmo.
      Beijocas

  22. Raul disse:

    Talvez tenha sido em 1986. Uma pena não lembrar do jogo da Forca, meu pai passava noites em claro tentando fazer essa programação.

    Mas como diz meu pai: “Nem lembro o que comi no café da manhã” 😛

    Beijos 😛

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