Implante Coclear x Olhares Alheios

“Alguém se incomoda com os olhares tortos para o seu implante coclear?”

Nesses quase 10 anos frequentando grupos de implantados nas redes sociais, vira e mexa me deparo com perguntas desse naipe.  E milhares de respostas rápidas que tentam definir o comportamento de quem se ofende ou criticar o comportamento de quem olha.

É importante lembrar que tudo o que é novo desperta a atenção!

Eu me lembro da primeira vez que vi um implante coclear pessoalmente. Foi no chá bar de uma amiga de escola, que tinha um primo implantado. acho que foi em 2003 ou 2004, não sei o ano exato. E, como a maioria das pessoas, achei grande, porque a gente compara com o aparelho auditivo retroauricular tradicional. Quis fazer mil perguntas, mas fiquei com vergonha. E somado à minha vergonha, o usuário em questão parecia incomodado de ter alguém olhando para o aparelho dele. No fim das contas, nem perguntei nada. E fiquei com aquela sensação de incognita sobre o IC.

Tempos depois, conheci outros implantados, vi o implante pessoalmente, saciei minha curiosidade, virei usuária e divulgadora.

Nesse meio tempo, meu comportamento evoluiu muito. E, sobretudo, eu passei a entender melhor os recém ou futuro implantados que ficam incomodados com os olhares de estranhamento.

Olhando de forma imparcial, vamos pensar no nosso ensinamento cultural em relação a diferenças. Desde cedo, nós somos quase sempre ensinados a não chamar a atenção para algo que chama a atenção de forma negativa ou algo que nos incomoda. Ninguém quer ser visto como uma anomalia. E as próteses auditivas ainda não exatamente aplaudidas pela sociedade. Elas já causam menos estranheza do que algumas décadas atrás, mas está longe de ser um acessório que as pessoas acham bonito, comum ou que não associem com uma fraqueza.

Além disso, nem todo mundo já ouviu falar de implante coclear. Tem gente que acha que a única maneira que se existe para lidar com a surdez é a língua de sinais. Uma prótese semi implantável que dribla a limitação auditiva? Nossa, isso existe?

A soma desse fatores cria uma situação em que, para muitos que ainda não estão suficientemente bem resolvidos com  a questão, gera uma sensação constrangedora. E não é tão simples dizer “Ai, que bobagem, se aceita aí!” porque geralmente existe um longo processo de auto aceitação até desencanar de ser implantado. Ninguém escolhe ter uma deficiência e, certamente se pudesse, ninguém escolheria.

Além do fato que existe toda a questão estética.  E gosto é igual CPF, cada um tem o seu. Eu amo meu IC e acho ele lindo, mas conheço um monte de gente que acha horrível. Quem tem gosto certo e quem tem gosto errado?

Claro que independentemente dessas questões particulares de auto aceitação e preferências estéticas, é sim importante achar um meio desenvolver um sentimento bom em relação à prótese auditiva. Perceber que ela não é um problema que carregamos, mas a solução para driblar um obstáculo que nos atrapalha. No caso, as barreiras sonoras. Compreender que o implante vem com a intenção de nos ajudar a ascender, conquistas oportunidades que a surdez nos barrava, nos permitir desfrutar a trilha sonora da vida. A partir do momento em que passamos a aceitá-lo como uma parte importante de nós, vai ficando mais fácil lidar com os olhares curiosos, com os comentários bobocas e as tentativas falhas de elofensa (elogio que na verdade é uma ofensa)

Sobre as pessoas que olham, em sua maioria, é apenas gente curiosa mesmo. Muitas tem medo de perguntar e ofender, porque certamente foi censurada quando criança.

É claro que existe sim gente mal educada que olha com pena ou repulsa para o implante. Talvez porque ela não saiba sobre a alegria que é para alguém que tem deficiência auditiva profunda ter acesso aos sons. Talvez, se ela soubesse, mudasse de opinião e passasse a curtir essa tecnologia maravilhosa que nós temos a oportunidade de usufruir. Quem sabe? Eu tenho uma fé enorme na humanidade!

Bora nos permitir falar mais sobre o assunto “lidar com os olhares alheios”, sem tanto julgamento?  Vamos acolher em vez de julgar. Compartilhar as nossas experiências, em vez de criticar. Apoiar e incentivar, em vez de condenar. Todos nós já fomos iniciantes. Todos nós evoluímos bastante. E ninguém gosta de ser criticado, né?

Beijinhos sonoros,

Lak

16 Resultados

  1. Para mim meu IC é um acessório , como um colar, brincos ou óculos . Nunca o escondi, é algo tão bom que tenho orgulho em mostrá-lo .

  2. Mostro meu IC e falo dela pra quem quiser..E quem não quiser, eu falo também. …Hoje mesmo tirei e mostrei..Mas não deixo ningurm pegar. .Só os implantados como amigos meus que usam e sabe mexer nele

  3. Não tenho nenhum problema em mostrar mas como meu cabelo é grosso e volumoso prefiro colocar o Kanso mais próximo ao imã então fica escondido mas estou sempre mostrando kkkk

  4. As pessoas olham mesmo, minha filha é implantado a 3 anos e como sempre usou aparelho auditivo ela nem se importa. Estamos felizes pois dia 6/11 ela vai ser implantada do outro lado. 🙏👏🏻
    O importante é ouvir né

  5. Elane Araújo disse:

    Meu filho é implantado há 3 anos,e realmente sempre tem aqueles que são muito indiscretos,e não se importam em demonstrar que realmente estão olhando,acho muito chata a situação e constrangedora para o usuário,mas nem ligo,meu filho também não,tem 6 anos sempre o cabelo está cortado bem baixinho,nunca deixei escondido é sempre bem notável pra todos,e quero que ele cresça sabendo que isso não é motivo de vergonha,sim de orgulho,pois graças a Deus em primeiro lugar e segundo ao se IC hoje pode ouvir,sou muito feliz,em poder chamar meu filho e ele me atender 🙏

  6. Carlos Silva disse:

    O MEU (I C ) É COMO UM FILME ; E DIGO : PODE ASSISTIR METADE HOMEM E METADE ROBÔ .

  7. As pessoas olham porque nao sabem diferenciar o IC do AASI para eles eh tudo mesma coisa. Cabe a cada um de nos implantados esclarecer a eles os beneficios do implante, suas funcionalidades etc.

  8. Bom dia a todos do grupo!

    Eu tenho 61 anos, sou surdo bilateramenter desde os 20 anos e com 56 fiz o implante coclear, indicado ao N5, e em março de 2017 troquei por N6, estou de olho na compra do N7 para ganhar melhorias de novas tecnologias.
    Digo que não tenho vergonha, medo, complexo, constrangimento de usar o IC em qualquer lugar do mundo. Prezo ouvir, entender, dialogar e vejo a vida sempre pelo lado positivo.
    Sei o que complexo, já tive muitos. Jamais me envergonho de nada e nem tampouco de um aparelho chamado Nucleus 5, 6 ou 7.

    Grande abraço!

  9. Bruna Michele disse:

    Alguém com alguma síndrome que seja implantado? Precisando de conversas..

  10. Sempre quando saio com meu marido as pessoas ficam olhando, uma vez fomos em uma loja e a funcionaria ficou comentando com a outra com olhar de espanto sobre o que seria “aquilo” na cabeça dele, eu perguntei – algum problema querida? As pessoas na maioria das vezes são ignorantes, já estou acostumada com olhares de espanto, negação, enfim,e sempre que possível tbem já chego na xinxa quando vejo que alem de ignorante a pessoa fica de deboche.

  11. Quando percebo algum olhar insistente ou fora do comum, eu interpelo a pessoa, educadamente. Uso um exemplo clássico com crianças: pergunto se conhecem alguém que usa óculos e se elas sabem o por que e faço a analogia. Miguel tem sete anos e nunca se incomodou em usar o IC ou o Aasi em público. Algumas crianças são terríveis, fazem bulling, já o chamaram de monstro, nesse caso eu chamo os pais para a conversa e, se for necessário, me retiro. #simplesassim.

  12. CR Adriano disse:

    Não tenho implante mas uso aparelho há 7 anos e durante esse tempo aprendi q um das melhores formas de lidar com os olhares alheios é CONSTRANGER O DONO DO OLHAR.Qdo noto q alguém está me olhando como se eu fosse um alien, eu pergunto: VC TÁ COM MEDO DE MIM? EU NÃO MORDO. Em geral, isso funciona e tb me divirto fazendo isso kkkk

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